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paulo-caldas-a-solid-25c3-25a3o-do-bettaaO artista fala em referência a uma série de suas pinturas chamada “A Solidão do Betta”.

paulo-caldas“– Tenho um irmão (Jose Carlos Caldas) que mexe com peixes ornamentais. Ele deu um Betta de presente à minha filha (Marina) e o mesmo passou a fazer parte da família. Só que algo me incomodava ao observar sua solidão. Amanhecia, anoitecia, saíamos e voltávamos, viajávamos e ele estava ali… solitário betta, betta solitário, em seu espaço reduzido de um aquário de um palmo por um palmo e meio.

Outra coisa me chamava a atenção: ele ser produzido para ser assim: lindo aos olhos humanos que – acho – não quer nem saber se aquele monte de caudas e barbatanas são incômodos.

Ele nada com muito esforço e chega um momento em que se deixa cair. Ele não está flutuando. Ele está caindo por causa do esforço que faz para se manter “nadando” e sendo lindo aos olhos humanos que também acham lindo e vibram com a estúpida queda de um boi numa ainda mais estúpida VAQUEJADA.

Todos os meus quadros formam uma série que define a ideia central.

Não tenho predileção por nenhuma obra minha. Meu trabalho é feito com entrega e dedicação e não me entrego mais a um do que a outro. Eles são como os dormentes de um trilho, e um não tem como estar se o outro não estiver.

Todo o meu trabalho visa o humanismo e o ser humano melhor, mais transparente e mais iluminado. As pessoas costumam dizer que o meu trabalho é lindo, mas ele seria um nada se fosse vazio de questões. Meu trabalho é puramente político – não confundir com politiquices ou politicalha.

Quando mais jovem li uma entrevista do grande Iberê Camargo e ele disse assim: “Não pinto para enfeitar o mundo. Não faço berloques! Eu pinto porque a vida dói…” eu já pensava assim antes de ler o grande pintor gaúcho nascido em restinga seca. A partir daí passei a ser mais radical quanto a isso.

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Quando vejo o peixe enclausurado num espaço tão pequeno, eu faço um paralelo com um ser de espírito tão imenso e vive num reduzido espaço chamado CORPO HUMANO! Vivemos numa cela de carne e osso. Tentamos flutuar, tentamos voar, mas nossas imensas e pesadas caudas e barbatanas nos impedem os movimentos… isso é o beta, isso somos nós!! Criamos nets e toda sorte de lindas tecnologias e somos assassinados pelo menor descuido no trânsito, nos jogos de futebol, numa fila de supermercado. Somos assaltados por desassistidos e engravatados e muitos não se dão conta do quanto é retrogrado “levar vantagem e ser “esperto””. Meu sentimento é, portanto, de solidão em meio a luzes e espelhos.
Ele constrói ninhos que jamais serão habitados. Ele briga com a ferocidade de um tigre e come sua ração com a voracidade de um tubarão. O que salva o betta da loucura são os espelhos onde ele se vê. Pensa ser um igual, mas é apenas espelho. E ele constrói mais um ninho e espera mais uma vez. Ele se engalana como um general quando vai brigar… com um espelho.

SER BOM É MAIS BARATO! SER CORRETO CUSTA MENOS AO PLANETA!”

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Trechos de uma entrevista extraída do site – https://www.aquaa3.com.br/2012/08/entrevista-com-o-artista-paulo-caldas.html