Matéria da combativa jornalista Lenilda Luna, publicada no site UFAL Notícias, informa sobre pesquisa realizada pela Universidade Federal de Alagoas sobre os destinos tomados por trabalhadores e trabalhadoras que eram do eito da cana em nosso Estado. Estudo muito importante, ressalte-se. E aplauda-se.
RAÍZES PROFUNDAS
Canaviais fazem parte do cenário do território alagoano desde os primórdios da colonização, com os engenhos Escurial, Maranhão e Buenos Ayres, trio manufatureiro de açúcar cuja fundação, em terras de Porto Calvo, é creditada a Cristóvão Lins, nome aportuguesado de Christoph Linz von Dorndorf, germânico nascido na vila de Dondorf, região alemã da Turíngia, por volta do ano de 1530 e findando seus dias em 1602, aos presumíveis 72 anos, em terras portocalvenses. Do século XVI em diante, diferentemente dos territórios limítrofes (Pernambuco, Sergipe e Bahia), que diversificaram suas economias, Alagoas manteve a primazia açucareira por quatro séculos. E o eito da cana pouco mudou, em termos do corte e colheita, no decorrer de quatrocentos anos.
MUDANÇAS PROFUNDAS
No apagar das luzes do Século XX, modernizações tecnológicas (uso de máquinas nos campos planos) e mudanças na legislação trabalhistas causaram alterações importantes no árduo trabalho do corte de cana. Mas, mesmo com essas modernidades, a forma de cortar a cana tendo como base a foice afiada e o braço forte seguiram sendo a mesma coisa nesses quatrocentos anos, ocupando, em tempo integral, durante as safras, centenas de milhares de pessoas por volta do ano 2000. Esse cenário muda muito rapidamente com a crise no setor sucroalcooleiro que marca a transição para o Século XXI. Apenas observando o noticiando pela mídia (sem consulta direta ao setor), em duas décadas, entre 1990 e 2020, 13 usinas teriam fechado em Alagoas, numa redução de 37 para 24 unidades. E, ainda segundo a imprensa, a previsão para a safra 2024/2025 seria de apenas 15 unidades moendo. Apesar setor sucroalcooleiro alagoano ser considerado ainda o mais produtivo no Nordeste, o baque é impressionante. O segmento mais prejudicado, até prova em contrário, é a base da pirâmide açucareira: cortadores e cortadoras de cana.
E AGORA, PÓS-CANAVIAL?
“Por onde andas e o que fazes? A vida depois do canavial” é o título da pesquisa coordenada pelo professor Rodolfo Lima, do curso de Administração da UFAL. Voltada para identificar os destinos dos trabalhadores canavieiros que foram deslocados do mercado de trabalho devido à redução do cultivo de cana em Alagoas, foi aprovada para financiamento pelo CNPq – fato que Rodolfo Lima, corretamente, salienta: “depois de um passado recente de desfinanciamento da Ciência brasileira, essa volta dos editais é extremamente importante. Não se consegue fazer pesquisa de qualidade sem os recursos”. Formada por pesquisadores em diversas áreas, como Economia, Psicologia e Sociologia, a equipe é composta também pelos professores Allan Souza, Cassiano Rumin, Charles dos Santos, Rodrigo Pereyra e Tainá Reis e tem como bolsista Danilo Santos, do curso de Ciência da Computação do Campus UFAL Arapiraca.
VOTO DE LOUVOR
Como sempre repetia o professor, usineiro e intelectual alagoano Cândido Toledo (1927/2012), “Universidade é pesquisa, sem pesquisa não existe ensino superior”. E a Universidade Federal de Alagoas tem se firmado e avançado como centro de excelência em pesquisas, e pesquisar a mobilidade social do antigo, e enorme, exército de cortadores de cana é um dos estudos mais importantes no universo socioeconômico alagoano. Parabéns, e boa sorte nesse eito tão significativo.