Dias de luto para a luta cultural em Alagoas: Marcondes Costa se foi

Levo comigo
Minha foice e a enxada
Vou seguindo pela estrada
Vou pro campo trabaiá
Vou ouvindo
O cantar dos passarinhos
Vou andando, vou sozinho
Tenho Deus pra me ajudar”

Marcondes Benedito de Farias Costa, alagoano da Viçosa, é o autor dos versos acima, parte da composição “Acordo às quatro”, eternizada na voz de Luiz Gonzaga. O Rei do Baião, no final da gravação, enfiou por conta própria, uma referência ao compositor e a seu Estado, num improviso, tipo “caco”, um alerta, como se fosse um pé-quebrado: “- Fio de caboclo alagoano tem de estudar!”

Estudar foi uma missão de vida inteira para Marcondes Costa, rimando aprender com ensinar, seja em verso, seja na prosa, música, humanismo, filosofia, psiquiatria, ideologia. Repassando arte e saber sem restrições. Teses e antíteses, em espirais dialéticas vividas intensamente. As matérias publicadas no dia de sua morte informavam sobre os livros de sua autoria: “Loucura e Asilo”, Maceió: IGASA, 1976; “Psiquiatria e Força (Imagens da Loucura)”, Maceió: IGASA, 1977; “Poemas Circunstantes”, Maceió: SERGASA, 1984; “Aspectos do Sofrimento Humano”, Maceió: SERGASA, 1981 – um pouco do registrado sobre a grandeza intelectual desse grande personagem, protagonista (na concepção exata do termo) de primeira linha da artesania cultural alagoana.

Marcondes fez dupla, em termos de DNA privilegiado, com seu irmão Marcos, ambos brilhantes. Para Marcos de Farias Costa – que segue na batalha pela difusão do conhecimento e da arte, numa produção literária da mais alta qualidade – está colocada a missão possível, mas talvez trabalhosa, de reunir a grande obra do mano-parceiro. Quem sabe quanto o autor de “Querer” e “Pra se Viver” deixou guardado nos fundos das gavetas, em termos de músicas, poemas e demais escritos?

Composições de Marcondes Costa, em várias gravações feitas em Alagoas, passaram a circular nas redes sociais desde a notícia da morte do artista, num belo tributo à sua obra. Destaque, nesse cenário, para as postagens do bravo Dimas Marques, através dos canais @alagoasmusical, que disponibilizou, nos momentos da despedida, o “Xote da Recordação”, uma composição de José Brandão na voz de Marcondes, e “Pra que?”, com Tânio Barreto e Marcondes (cantada em duo), gravadas em 1983, no Teatro de Arena. Compositor, cantor, poeta, escritor, pesquisador… obra múltipla, obra que não merece ser esquecida. Para quem fica e tem compromisso com a cultura alagoana, é hora arregaçar as mangas, como ele mesmo indicou na primeira estrofe de seu sucesso nacional cantado por Luiz Gonzaga:

Acordo às quatro
Tomo meu café
Dou um beijo na muié
E nas crianças também
Vou pro trabáio
Com céu ainda escuro
Respirando esse ar puro
Que só minha terra tem”

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