Continuamos hoje na pauta de ontem. Pelo publicado nas tantas mídias nacionais, parece ser novidade a força eleitoral da centro-direita e da direita. Isso foi radicalmente diferente nalguma outra eleição brasileira? Nem mesmo é coisa nova o fortalecimento da extrema-direita tresloucada, pois esse é um filme B em cartaz desde 2016. Desde quando nosso país – cujas origens são solidamente escravistas, colonialistas, racistas, e tremendamente desiguais em todos os campos socioeconômicos – pendeu verdadeiramente para a esquerda? As eleições de Lula e de Dilma para a presidência da República foram descoladas das eleições do Congresso Nacional majoritariamente de centro-direita e direita. Do “fora Dilma” até agora, a mais notável característica neste período histórico é a resiliência e a capacidade de recuperação das esquerdas sob intenso bombardeio. Esta é a única, e entusiasmante, novidade. O resto é o de sempre, quadro piorado pelo crescimento da direita neofascista mais vagabunda jamais vista nessas paragens.
EBULIÇÃO NAS DIREITAS
Várias são as direitas, sim. Pluralidade não é exclusividade à esquerda. E aí temos um fato novo eclodindo das urnas neste 2024: o robustecimento de fações destras antes subservientes ao ex-capitão de milícias, e agora achando melhor jair pegando o mito pelos chifres. Caso emblemático é o posicionamento duro do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (e do prefeito eleito em Goiânia, Sandro Mabel) de peitar frontalmente o ex-despresidente, menos de 24 horas depois de terem derrotado a candidatura bolsonarista num duro combate pela capital goiana. “O povo não aguenta mais esse nível de fake news, rotulando, se não concorda com a ideia deles, daí sai como comunista, sai como pessoa que não tem respeito à família. Pessoas totalmente desqualificadas para falar de família e falar de Deus”, endureceu Caiado. Mabel, por sua vez, arrochou: “Ele [Jair Messias] foi muito desleal comigo”, e já antecipou a campanha 2026: “Se a direita quiser ganhar as próximas eleições presidenciais, ela precisa estar com candidatos que tenham uma visão de centro-direita, como é o caso do Caiado aqui. Se tiver de extrema, chega no segundo turno, mas não passa. O B(…) chegou ao segundo turno em diversas capitais, mas os candidatos dele não ganharam. Aqui a gente chama de cavalo paraguaio. Tem arrancada, mas não tem chegada”.
EQUÍVOCOS NAS ESQUERDAS
“Fazer aliança com o centro altera o caráter do PT” foi a frase de José Genoíno escolhida para manchete de sua entrevista à BBC Brasil, comprovando a capacidade de certas doenças infantis serem imunes às vacinas políticas-ideológicas mais testadas ao longo da história. Essa miopia ainda é endêmica em boa parte das esquerdas, embaralhando ideologia, política e eleições. Economizando teorizações tão antigas quanto verdadeiras, pulemos à prática como critério dialético na busca pela verdade: Todas as eleições presidenciais ganhadas pelo PT se deram graças às alianças com o centro e centro-direita. As esquerdas, no Brasil, jamais conquistaram base parlamentar capaz de sustentar, por si próprias, um governo de centro-esquerda (nem falo “governo de esquerda”); Lula e Dilma tiveram que se aliar ao centrão e à centro-direita para governar. E, se não for para governar, pra que ganhar? Dilma foi facilmente derrubada por um golpe no Congresso, ao se afastar dessa aliança com o centro, sem que as bases canhotas esboçassem, nas ruas, qualquer reação efetiva. As urnas, em 2024, estão repetindo, aos berros: “Crescem no voto e ampliem suas alianças, ou saiam do jogo!”.