Caso Deolane: Justiça afirma que parentes da influenciadora pagaram pessoas para protestar na frente de presídio no Recife

Influenciadora investigada em operação contra lavagem de dinheiro e jogos ilegais teve habeas corpus negado pelo TJPE. Na decisão, desembargador mencionou ‘financiamento de manifestantes por iniciativa de familiares’.

O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) afirmou que pessoas receberam dinheiro de parentes de Deolane Bezerra para fazer manifestações em apoio a ela na frente da Colônia Penal Feminina do Recife. A influenciadora, presa em operação contra lavagem de dinheiro através de jogos ilegais, foi transferida da capital pernambucana para a penitenciária de Buíque, no Agreste.

“O financiamento de manifestantes, por iniciativa de familiares da paciente [Deolane], para se aglomerarem diante da Colônia Penal Feminina do Recife (Bom Pastor) e realizarem protesto, demonstra a total inconveniência da permanência da paciente em suas instalações, justificando o seu encarceramento em Buíque”, disse o TJPE.

Essa declaração é do desembargador Eduardo Guilliod Maranhão, que negou o novo pedido de habeas corpus feito pela defesa de Deolane na decisão judicial publicada na quarta-feira (11).

O magistrado afirma que foram publicadas reportagens em sites de notícias que afirmam que os parentes de Deolane “estão financiando as manifestações em frente ao cárcere”. As reportagens citam um vídeo que circula nas redes sociais e mostra Dayanne Bezerra entregando notas de dinheiro a pessoas no local.

Na segunda-feira (9), o g1 conversou com pessoas que disseram ter visto “falsos fãs”, que vão até a unidade para tentar receber dinheiro da equipe de Deolane. Elas afirmaram, ainda, que viram uma mulher recebendo R$ 300 da irmã da influenciadora.

A influenciadora, que é mãe de uma menina de 8 anos, foi beneficiada na segunda-feira (9) com um habeas corpus previsto na legislação para quem tem filhos até 12 anos. No entanto, ela teve a prisão domiciliar revogada por descumprimento de medidas cautelares.

Para transformar a prisão preventiva em domiciliar, a Justiça tinha determinado, entre as medidas cautelares, que Deolane não poderia dar entrevistas nem se manifestar sobre o caso. No entanto, após colocar uma tornozeleira eletrônica e ser liberada da cadeia, a influenciadora falou com a imprensa e com fãs na saída do presídio e postou, no Instagram, uma foto com a boca coberta por uma fita com um “X” no meio.

A defesa de Deolane argumentou que, ao sair da Colônia Penal Feminina do Recife, a influenciadora disse às pessoas presentes que não poderia se manifestar, mas “o assédio a seu redor” era excessivo e, por isso, ela falou que se sentia injustiçada “sem direcionar a fala a qualquer pessoa”.

Outros motivos para negar habeas corpus

Na decisão judicial da quarta-feira, o desembargador listou outros motivos para negar o pedido de habeas corpus para a influenciadora. De acordo com Eduardo Guilliod Maranhão:

Deolane “afrontou” a ordem judicial assim que saiu da unidade prisional: “A autoridade policial noticiou que a paciente [Deolane] mal pisou fora do estabelecimento prisional, cuidou de se manifestar sobre o processo perante a imprensa e postou mensagem que remete subliminarmente ao processo em rede social, afrontando as medidas cautelares que lhe foram impostas”;
A influenciadora tentou mobilizar a população contra o andamento do processo: “Vejo, especialmente, como gravíssima a tentativa de mobilizar milhões de pessoas contra uma investigação policial em curso, que procura apurar condutas que podem estar na base de crimes de gigantesca monta contra o Estado e a sociedade”, considerou o desembargador;
A Justiça teve mais consideração pela filha da empresária do que a própria Deolane: “Se a paciente [Deolane] foi autorizada a deixar o cárcere, foi exclusivamente pensando no bem da sua filha, de tenra idade. […] Lastimo que a paciente [Deolane] não tenha tido para com a sua filha a mesma prioridade, atenção e cuidado que a Justiça brasileira teve, mas diante da gravidade dos fatos, tenho que agir acertadamente a MM (meritíssima) Juíza quando decretou a prisão preventiva da paciente”.
Após o TJPE recusar o pedido de habeas corpus, a defesa de Deolane Bezerra recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que a influenciadora tenha a prisão preventiva revogada. O caso está em segredo de Justiça e será analisado pelo desembargador convocado Otávio de Almeida Toledo.

A cronologia do caso Deolane

Em julho deste ano, Deolane Bezerra abriu uma empresa de apostas, Zeroumbet, com capital de R$ 30 milhões.
Em 4 de setembro, a empresária e influenciadora digital foi presa na Operação Integration, deflagrada contra uma quadrilha suspeita de movimentar cerca de R$ 3 bilhões num esquema de lavagem de dinheiro proveniente de jogos de azar.
A Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões da empresa dela por lavagem de dinheiro. Na delegacia, a influenciadora afirmou que a renda mensal dela é de R$ 1,5 milhão.
Além de Deolane Bezerra, foram presas mais de 10 pessoas suspeitas de integrar o esquema, incluindo o empresário Darwin Henrique da Silva Filho, dono da casa de apostas Esportes da Sorte, e a esposa dele, Maria Eduarda Filizola.
Em depoimento após ser presa, Deolane confirmou que comprou um carro de luxo de Darwin, um Lamborghini Urus S, por R$ 3,85 milhões. Segundo a Polícia Civil, os pagamentos à vista pela compra e pela venda de carros de luxo feitas pela empresa e pelo empresário geraram indícios de que houve “lavagem de dinheiro proveniente do jogo do bicho e de apostas esportivas”.
Ainda no dia 4, após a prisão, Deolane escreveu uma carta, publicada no Instagram, dizendo que está sofrendo “uma grande injustiça” e que ela e a família são vítimas de preconceito e lamentou a prisão da mãe.
Ainda de acordo com a polícia, a Justiça decretou o sequestro de bens de vários alvos, incluindo aeronaves e carros de luxo, e o bloqueio de ativos financeiros no valor de R$ 2,1 bilhões. Ao todo, a polícia solicitou que R$ 3 bilhões fossem bloqueados.
No dia 9 de setembro, Deolane deixou a cadeia no Recife após ser beneficiada com um habeas corpus. Ela ficaria em prisão domiciliar e teria que usar tornozeleira de monitoramento.
Antes mesmo de entrar no carro para ir embora, Deolane falou com a imprensa na frente do presídio: “Foi uma prisão criminosa, cheia de abuso de autoridade por parte do delegado. […] Eu não posso falar sobre o processo. Eu fui calada”.
Na noite de 9 de setembro, uma nova carta escrita por Deolane foi publicada no Instagram. “Agradeço imensamente o carinho e o apoio de todos, tenham certeza que não irão se arrepender, afirmo com todo o respeito que tenho por vocês, sou inocente e não há uma prova sequer”, disse no trecho final do manuscrito.
No dia 10 de setembro , Deolane teve a prisão domiciliar revogada, após o descumprimento das medidas cautelares de sua liberação.


Fonte: g1

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