Riquinho é um personagem de quadrinhos, um filhinho de papai miliardário, ambientado nos Estados Unidos. Foi publicado por aqui num gibi há coisa de meio século. Em 1994, virou filme estrelado pelo então garoto-prodígio Macaulay Culkin. Riquinho é um personagem do bem, fictício e divertido. Elon Musk é um Riquinho real, do mal, controvertido e contraventor.
RECURSOS ESTRATOSFÉRICOS
Elon nasceu milionário em Pretória, África do Sul, em 1971, herdeiro de minas de esmeraldas localizadas na Zâmbia. Com sua ousadia para ganhar dinheiro, virou multimilionário numa trajetória meteórica iniciada, segundo ele próprio, aos 11 anos de idade, com a criação de um joguinho de videogame, vendido por US$ 500. Por volta de 1999, seu patrimônio registrou a entrada de US$ 307 milhões em dinheiro (mais US$ 34 milhões em ações) pela venda à Compaq de uma empresa chamada Zip2, inventada por ele. Daí para adiante, foi como no bordão de Buzz Lightyear, boneco astronauta na animação Toy Story: “Ao infinito e além!”. Posicionamento engraçado e ingênuo no desenho animado, mas trágico e temível no mundo real quando essa concepção é incorporada por um hiper-Riquinho mimado e que se acha dono da terra e do espaço sideral.
DO TWITTER AO X
Comprar o Twitter custou a Elon a bagatela de US$ 44 bilhões. Ao efetivar a aquisição, em outubro de 2022, depois de uma batalha judicial, Musk eliminou todo comando da empresa, alterando nome, rumos e conceitos éticos. Conforme o próprio Musk confessou, tuitando no dia da compra, o objetivo “não era ganhar dinheiro”. Foi sincero, pois a meta do X é outra: Criar um mundo de desinformação baseado em fake news produzidas industrialmente para servir a seus interesses político-econômicos. Como era antes de Elon? Em 20 de julho de 2020 o Twitter atendeu decisão judicial e retirou do ar contas de aliados do então presidente Jair Messias, e mais Roberto Jefferson, Luciano Hang, Allan dos Santos, Sara Giromini e outras celebridades; em 9 de setembro de 2021, o Twitter retirou do ar 14 contas de adversários de Jair Messias, em endereços como @pandora, @forabolsonarob, @IneditaBrasil, @estrelatuita, @estrelacoletivo. Não existia invulnerabilidade antes de Musk transformar o Twitter em X.
LIBERDADE PARA O CRIME?
No domingo, um artigo (de opinião) n’O Globo transbordava ressentimento pelo que o escritor considerava agressões do STF contra o X do Musk: “Confesso que fiquei assustado quando li, anos atrás, um artigo num jornal de peso dos Estados Unidos o autor escrever que ‘se pudesse daria um soco na cara do presidente’. Hoje, aqui no Brasil, o sujeito estaria preso”. Sofisma da gota! Hoje, ontem e amanhã, aqui no Brasil, muita gente – em todos os canais das redes sociais, e nas mídias tradicionais – diz que vai dar um soco, um tiro, uma dedada no presidente da República, nos presidentes do STF, STJ, Senado, Câmara… e não acontece nada. Por quê? Porque estão dentro dos limites legais da Liberdade e Expressão e Opinião. O X da questão é que Musk se recusa a cumprir determinações judiciais, protegendo grupos criminosos especializados em divulgação massiva de campanhas difamatórias e organizadas via seu X – posicionamentos que nada tem a ver com o direito de opinião. Elon pode espernear (o que é um direito), e até tentar novo golpe de estado (o que é um crime) – como declarou em relação à Bolívia, no Twitter, em 25 de julho de 2020: “Vamos dar um golpe em quem quisermos! Lide com isso” – mas, no Brasil, precisa cumprir a lei, inclusive em relação a tentativas golpistas de quaisquer tipos.