Fogo no cabaré bolsonarista em São Paulo

Natural é a eleição na capital paulista chamar a atenção de todo país, afinal a pauliceia desvairada é o epicentro econômico-financeiro e cultural do Brasil (e da Latinoamérica). Assim, comentar as démarches eleitorais paulistanas é coisa natural para o resto do país. Isto posto, vamos lá:

TREMOR PAULISTANO

Desvairada está a disputa na pauliceia. Treme a terra plana com o crescimento da candidatura, antes tida como “folclórica”, de um marginal destacado na tórrida terra-sem-lei que é o universo das redes sociais no Brasil. Estremecem as almas pudicas defensoras da “liberdade de desinformação” e do “livre-comércio absoluto” nas redes sociais. Tremelica quem acha que a Justiça (com maiúscula), especialmente o Supremo Tribunal Federal, “extrapola seus limites”. Mas, tal como o finado Escobar colombiano, esse Pablo brasileiro despontou para impor as regras do submundo ao dito establishment, surpreendendo seus próprios patrões.

TEMOR PAULISTANO

Teme a dita elite uma legítima cria sua. Os Pablos de sucesso nas redes sociais são alimentados por investidores que apostam nos lucros fáceis do tráfico da desinformação, da comercialização das fake news, da venda dos preconceitos de todos os tipos, e do exercício puro e simples do crime organizado no cyberespaço. Hoje, esses patrocinadores temem o famigerado Pablo com 21% das intenções de voto para a prefeitura de São Paulo, mas temem muito mais que a Justiça cumpra seu papel e passe a cobrar limites legais às redes sociais. Esse horror se materializa, dentre outras ações, quando – atendendo a um pedido do PSB (da candidata Tabata Amaral) – a Justiça Eleitoral paulista decide suspender alguns perfis delituosos usados para monetização pelo candidato bolsonarista nº 2. O sobressalto, então, dobra de intensidade: choram porque Don Pablo, o ex-coach, ameaça o candidato bolsonarista nº 1, Nunes, e choram porque para frear Don Pablo é necessário aplicar a legislação no segmento das redes sociais.

FORA DE CONTROLE?

Pablo Marçal e Jair Messias são duas faces de uma mesma moeda: estupidez pessoal e relevância de massas na extrema-direita. O problema para o bolsonarismo é que sua melhor candidatura em São Paulo seria a do atual prefeito, Ricardo Nunes, por representar uma ampliação política dessa quadrilha que chegou a ocupar o Palácio do Planalto por quatro anos. Don Pablo deveria ter jogado o papel de provocador apenas contra Guilherme Boulos, a verdadeira e grande novidade na disputa paulistana, numa ação tática em benefício da reeleição de Nunes. Mas El Escobar digital se empolgou, enxergou-se aboletado na cadeira de prefeito e pulou (temporariamente) fora do controle da familícia, mudando sua posição na ménage-à-trois com Jair e Ricardão. O mito gemeu, as elites assustam-se. Mas, e agora?

CENA DO MOMENTO

Divulgada há cinco dias, uma pesquisa realizada pelo Datafolha sobre a intenção de voto para a prefeitura paulistana, mostrou Boulos com 23%, Don Pablo com 21% e Nunes, 19%. O cabaré do Jair pegou fogo: o mito e seus filhos partiram a mais de mil para se engalfinhar com o “homem de bem” e “patriota” Pablito – o bolsonarista que virou inimigo de infância (por enquanto, depois estarão aos beijos novamente). Nesse imbróglio, as elites avalistas e financiadoras do bolsonarismo estão perdidas como deficientes visuais em tiroteio, pois (repito) essa gente teme gente como Don Pablo fora da coleira, mas tem pavor muito maior à aplicação da Lei (quaisquer leis) ao lucrativo submundo digital.

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