Mesmo não sendo surpresa, causou enorme impacto a desistência de Joe Biden em tentar a reeleição como presidente dos Estados Unidos. Esse gesto era ansiado pelos apoiadores e temido pelos adversários. Todas as pesquisas apontavam um declínio evidente de Biden frente a Trump, apesar da desvantagem não ser definidora, oscilando em torno de 3%. Entretanto, uma (hoje velha) pesquisa divulgada em maio do ano passado, indicou que seis entre 10 americanos tinham “preocupação com a capacidade de Biden ser presidente”. Consulta esta realizada apenas um mês depois do presidente ter anunciado, em 25 de abril de 2023, sua decisão de concorrer a novo mandato.
DEBATE DESASTROSO
Nesse cenário desfavorável, o primeiro debate feriu gravemente a candidatura Biden, mostrando um Joe perdido no espaço, repetindo-se nas confusões de nome e datas, e incapaz, sequer, de rebater uma única das muitas mentiras ululantes disparadas por um Donald loquaz, cínico e agressivo como sempre. Pesquisa realizada pelo New York Times, através do Instituto Sienna, após esse confronto (travado em 27 de junho), mostrou que a desvantagem de Biden dobrou em relação às pesquisas anteriores, alcançando 6%, cravando 49% a 43% de intenções de voto a favor do candidato do Partido Republicano. Era a manifestação evidente do decrescimento do atual presidente junto ao eleitorado, comprovando a impossibilidade de reversão das fragilidades pessoais expostas durante quatro anos de mandato. Começavam aí as pressões para sua desistência à reeleição.
ORELHA FURADA
Apesar de ter tido impacto insignificante nas pesquisas feitas depois dos tiros, é um fato significativo a orelha sanguinolenta de Trump, supostamente trespassada por um tiro no atentado de 13 de julho. Destaque-se o instigante fato desse atentado a favor da candidatura de Trump ter sido cometido por um atirador ligado ao Partido Republicano no comício do Partido Republicano na Pensilvânia – evento que resultou em dois mortos, um deles o acusado (identificado como Thomas Crooks, de 20 anos). Esse acontecimento trágico ocorrido entre republicanos está sendo, desde então, fartamente utilizado eleitoralmente contra os democratas como peça de marketing (vide o “curativo” viralizado nas orelhas da militância trumpista). A tendência, tal qual observada no atentado a favor da candidatura de Jair Messias, no Brasil, em 2018, é a vitimização do candidato ser exaustivamente instrumentalizada na reta final da disputa pelo voto.
REAÇÃO À ALTURA
Neste momento delicado da campanha americana, a mudança do nome democrata na disputa pela Casa Branca é – desculpem a comparação – um tiro certeiro no coração das táticas trumpistas. A guerra pelo voto volta a se equilibrar nos Estados Unidos, em desfavor da direita mais extremada e mais espalhafatosa reunida em torno de Donald Trump.
Apesar da disputa seguir indefinida e das diferenças entre republicanos e democratas serem cosméticas, Trump é uma grande referência internacional para a extrema-direita (embora, ressalte-se, em relação à OTAN ele tenha se posicionado com mais acerto que seus adversários). Em termos gerais, a atitude estratégica, humanista, neste tempo de resistência à ascensão neofascista no mundo, é enfrentar – sem quaisquer vacilações – o suprematismo, racismo e reacionarismo representado pelo ideário trumpista.