Criado e editado por Edberto Ticianeli, historiadealagoas.com.br é o mais eficiente canal de informação histórica, via meios digitais, no nosso Estado. Esse sítio fornece os melhores frutos da memória alagoana – sempre maduros, mas nem sempre doces, pois aqui ou ali aparecem amargores de nossa trajetória enquanto sociedade desigual e injusta; mas a vida é assim mesmo em qualquer lugar neste velho mundo de guerra.
FÉLIX LIMA JÚNIOR
Cito uma postagem de 20 de maio deste ano: “A Perseverança e Auxílio dos Empregados no Comércio de Maceió”, onde Ticianeli resgata artigo de Félix Lima Júnior publicado no Diário de Pernambuco em 10 de outubro de 1956. Diz o texto original: “Organizada e constituída por simples caixeiros, viveu, prosperou, venceu, graças ao trabalho, ao idealismo e a força de vontade de seus associados que, depois de permanecerem atrás dos balcões alheios, muitas vezes das 5 da manhã às 8 da noite, iam para a sede de sua associação de classe estudar e trabalhar pelo desenvolvimento da mesma”.
RAÍZES PROGRESSISTAS
Temos aí um dado essencial: a entidade tinha nítido caráter classista, era formada e dirigida por quem estava no batente, suando a camisa. “Fundada em 3 de março de 1879, pelos srs. José Quirino Calaça Buril, Umbelino Vieira de Lima, Antônio Pereira Cortes Júnior, Romualdo da Silva Jucá, Manuel S. de Oliveira Nicodemos, Joaquim Carlos Maciel Pinheiro e Francisco J. Telles Júnior, e dispondo apenas de modestíssima renda, obtida das mensalidades dos que a compunham, mantinha sua sede irrepreensivelmente bem posta, com um museu comercial, sessão numismática, secretaria e biblioteca, com 2.530 volumes, então considerada a terceira do Estado”, segue Lima Júnior.
MEMÓRIA COMO MILITÂNCIA
“O museu foi inaugurado em 16 de setembro de 1897 e nele se encontravam elementos de cerâmica indígena, produtos agrícolas, matérias-primas, armas e adornos dos indígenas brasileiros, artigos de tecelagem, da flora e da pequena indústria do nosso Estado, além de valiosa coleção de moedas, oferta do saudoso médico conterrâneo dr. Manuel Ramos de Araújo Pereira, então residente no Pilar, coleção que em 1902 era estimada em 60 contos de réis, segundo consta do Indicador Geral do Estado de Alagoas daquele ano, e que hoje deveria valer mais de 500.000 cruzeiros! Registro com tristeza, que da coleção aludida restam, apenas, algumas moedas das de menor valor; as demais desapareceram, inclusive as notas chinesas de valor incalculável, antiquíssimas, impressas em papel de arroz”, acrescentava Félix, republicado por Edberto.
CONTRA A REPRESSÃO
“No museu, foram depositados os objetos do culto dos xangôs desta capital quando, em 1º de fevereiro de 1912, políticos exaltados e populares, à frente elementos da famigerada Liga dos Republicanos Combatentes, invadiram criminosa e barbaramente os terreiros e residências dos pais e mães de santo, espancando e ferindo pessoas, além de carregarem o que encontraram. Esses objetos, depois de devidamente arrumados, foram expostos à curiosidade popular em fins de 1912, registrando-se verdadeira romaria aos salões da Perseverança. Todos queriam vê-los!”, documenta o autor, nascido em Maceió em 1901 e que pode ser considerado testemunha auricular dos acontecimentos, pois, aos 11 anos, tinha discernimento para entender os comentários circulantes na cidade no tempo do “Quebra”. Nada mais lícito, mais coerente, que a guarda da Coleção Perseverança, há mais de meio século propriedade do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, siga nesta corrente de mãos cidadãs que a salvou e dela cuida exemplarmente há 112 anos.