Depressão: como sua saúde mental pode estar relacionada às suas fezes

Estudo realizado na Holanda mostra que a alimentação e digestão ocorrida na flora intestinal pode afetar, de forma direta, a psique humana.

As questões relacionadas à mente são um dos maiores mistérios da humanidade. Seu poder e capacidade de alterar o corpo humano são alguns dos motivos que fazem com que milhares de cientistas busquem, incansavelmente, por respostas. Nessa busca, uma pesquisadora holandesa acabou descobrindo que nossa alimentação (e fezes) pode ter relação direta com a psique humana.

Em um estudo que levou dois anos e analisou o cocô de mais de duas mil pessoas, Najaf Amin concluiu que bactérias encontradas no excremento humano podem influenciar no desenvolvimento da depressão. De acordo com a pesquisadora da Universidade de Oxford, na Inglaterra, o caminho até a digestão pode ser um dos pilares no combate às doenças mentais.

Flora intestinal e a saúde mental

Em estudos que analisaram a relação entre a alimentação, fezes e doenças, há poucas evidências sobre como esses processos podem influenciar na depressão. Isso, porém, não anula a relação entre eles. Na intenção de endossar esses estudos e trazer maiores evidências, Najaf analisou os fenômenos relacionados à flora intestinal, que podem influenciar no distúrbio psicológico.

Já é sabido que uma dieta equilibrada está relacionada à saúde mental e, como o que ingerimos é digerido pela flora intestinal, os especialistas buscaram a procurar respostas nas fezes. Nesse sentido, cientistas analisaram os excrementos para identificar os microrganismos presentes no nosso intestino.

Dando embasamento à linha de estudo dos cientistas ingleses, os pesquisadores levaram em consideração a relação que doenças como Alzheimer, autismo e Parkinson têm com as bactérias que produzimos no próprio organismo.

As fases da pesquisa

Na primeira fase, foram analisadas as amostras de fezes de mais de mil holandeses para identificar os microrganismos presentes. Além da coleta do material orgânico, os voluntários também preencheram questionários para avaliar a presença de supostos indícios da depressão.

Em seguida à coleta de informações e dados, os pesquisadores correlacionaram as bactérias identificadas às pessoas que apresentaram maior tendência a desenvolver um quadro depressivo. Nesse sentido, foram identificados 16 tipos de bactérias associadas com a depressão.

Como isso acontece?

Apesar dos resultados, os responsáveis pelo estudo avaliam que essa é uma primeira etapa do processo para identificar as complexas causas da depressão. De acordo com Robert Kraaij, um dos coautores do trabalho, porém, essa relação entre as bactérias intestinais e a patologia pode ocorrer de duas formas:

Na primeira delas, o quadro depressivo pode ocasionar em má alimentação e causar um desequilíbrio desse ecossistema. Na outra (e que mais desperta interesse nos cientistas), um desiquilíbrio da flora intestinal pode interferir no bom funcionamento do cérebro.

O estudo ainda evidenciou que esses microrganismo podem influenciar a mente humana de três formas. Na primeira, eles acreditam que esse desequilíbrio pode favorecer a produção de citocinas que afetam o funcionamento do sistema imune. A outra forma avalia que esse desbalanço da microbiota pode produzir, de forma direta, substâncias como GABA ou similares da adrenalina.

Existem três caminhos principais por meio dos quais esse conjunto de seres vivos pode influenciar a mente. Em primeiro lugar, quando há desbalanço da microbiota pode haver produção de citocinas que afetam o funcionamento do sistema imune. Outra via é através da produção direta, por ela, de substâncias que atuam como sinalizadores para o cérebro, como o GABA ou similares da epinefrina.

Alimentação e a depressão

De acordo com Najaf Amin, o futuro caminha para que a dieta se torne um dos principais combatentes de quadros depressivos. O que ela enxerga como algo positivo, já que a manutenção da alimentação não possui efeitos colaterais e é mais barata que o uso de medicamentos para o tratamento da depressão — e ainda é benéfica para diversos aspectos.

Além disso, a pesquisadora inglesa ainda vê o desenvolvimento de probióticos como uma consequência direta de pesquisas como essa, mas que isso pode demorar para acontecer. Conforma ela explica, ainda é preciso avançar em diversos aspectos e identificar com precisão as cepas de bactérias que podem ser benéficas antes de pensar em um produto para suplementar a dieta.

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