Infectologista avalia que estigmas e fake news atrapalham o acesso ao tratamento e o combate à doença que se espalhou por 78 países.
Desde que o primeiro caso de varíola dos macacos (monkeypox) foi notificado no Reino Unido, há três meses, mais de 27 mil pessoas foram diagnosticadas com a doença em todo o mundo. Com o aumento de casos cresceram também as dúvidas — nas redes sociais, já começaram a circular informações falsas e imprecisas. Especialistas em saúde pública avaliam que a desinformação e os estigmas em torno da doença atrapalham o enfrentamento.
“A estigmatizarão atrapalha tudo porque vai contra a vida das pessoas. Esses pacientes precisam ser acolhidos, protegidos e ter acesso ao tratamento”, afirma o infectologista José David Urbaez Brito, presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal.
Afim de esclarecer essas dúvidas, o Metrópoles explica quatro mitos sobre o assunto:
Mito 1: “Apenas homens gays e bissexuais correm risco de pegar a doença”
Qualquer pessoa que viva ou tenha contato próximo com um paciente com feridas ou bolhas provocadas pelo vírus corre risco de ser infectada. Isso inclui parentes, parceiros afetivos e sexuais, e profissionais de saúde, independente do gênero ou orientação sexual.
O presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal explica que o início da transmissão da doença coincidiu com grandes eventos do calendário do orgulho gay, e o vírus encontrou nas aglomerações o ambiente perfeito para se disseminar.
ESSE GRUPO DE PESSOAS, POR UMA CIRCUNSTÂNCIA, ESTAVA EM MAIOR RISCO. PODERIA TER SIDO NO CARNAVAL. MUITOS FATORES FIZERAM COM QUE O VÍRUS ENCONTRASSE UMA FORMA MAIS EFICIENTE DE TRANSMISSÃO. ISSO NÃO QUER DIZER QUE TENHA RELAÇÃO COM A ORIENTAÇÃO SEXUAL”, AFIRMA.
Mito 2: “O vírus não é transmitido pelo ar, logo, não preciso fazer isolamento”
O isolamento faz parte das medidas para conter o surto. Segundo Urbaez, o paciente deve ser permanecer de quarentena por cerca de 21 dias (três semanas) ou até que todas as lesões estejam completamente cicatrizadas e sem casquinhas.
Mito 3: “O vírus é transmitido como o HIV”
Embora o vírus da varíola dos macacos já tenha sido encontrado em uma amostra de sêmen, ainda não está comprovado se a transmissão pode ocorrer pelo contato com o esperma ou fluidos vaginais. Ainda assim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a doença como uma infecção sexualmente transmissível (IST).
O contágio ocorre principalmente quando há contato próximo (que acontece pelo beijo, abraço, relação sexual oral ou com penetração) com os fluidos das feridas e bolhas de um paciente infectado. Outras vias de transmissão são o compartilhamento de objetos e superfícies.
Mito 4: “A varíola dos macacos tem alto risco de morte”
Embora a doença possa causar quadros graves – com dor intensa causada pelas lesões na pele, acometimento da mucosa retal e cicatrizes permanentes por todo o corpo –, a taxa de mortalidade pela infecção do monkeypox está abaixo de 1%.
“Felizmente, a doença tem letalidade muito baixa. Em alguns países da África, a letalidade é mais alta pela falta de acesso ao diagnóstico e tratamento, situação completamente diferente da nossa realidade”, afirma Urbaez.
Pessoas com o sistema imunológico comprometido, recém-nascidos e crianças pequenas correm o risco de desenvolver sintomas mais graves quando são infectadas.
“NO PASSADO, ENTRE 1% A 10% DAS PESSOAS COM VARÍOLA DOS MACACOS MORRERAM. É IMPORTANTE NOTAR QUE AS TAXAS DE MORTALIDADE EM DIFERENTES CONTEXTOS PODEM DIFERIR DEVIDO A UMA SÉRIE DE FATORES, COMO O ACESSO AOS CUIDADOS DE SAÚDE”, DISSE A OMS, EM COMUNICADO.
De acordo com a plataforma Our World In Data, foram registrados cerca de 27 mil casos e nove mortes em todo o mundo entre o início de maio e essa quinta-feira (4/8). Na maioria dos casos, os sintomas evoluem e desaparecem por conta própria em algumas semanas.
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