Um técnico de handebol com passagens por algumas das escolas mais tradicionais de São Paulo está sendo acusado de assediar sexualmente atletas de um time de ensino médio. Freddy Rigout foi demitido do Colégio João XXIII, localizado na Mooca, na sexta-feira (5), depois que o caso chegou ao conhecimento da direção da instituição.
De acordo com prints de postagens às quais a reportagem teve acesso (as imagens não serão reproduzidas para não expor menores de idade), Freddy utilizava o Instagram para mandar mensagens consideradas inapropriadas pelas meninas. Regularmente, ele respondia a fotos publicadas nos stories enviando emojis tidos como flertes (coração, beijo, corações no lugar dos olhos etc). Para ao menos uma garota, depois de diversas mensagens com emojis enviadas por meses, foi textual: “Como faço para te mostrar quanto você é linda sem você me achar um babaca?”, perguntou o técnico.
Ex-jogador de handebol e educador físico, Freddy dava aulas de educação física no ensino regular e treinava o time de handebol do colégio no contraturno escolar. Segundo relato de uma aluna aos pais, ele tinha comportamentos diferentes. Nas aulas, divididas com uma professora mulher, mantinha relação profissional com as alunas. Nos treinos, procurava o contato físico a partir de brincadeiras.
Por causa desse comportamento, ela parou de frequentar os treinos e, na semana passada, comentou com colegas a respeito do assédio. Foi quando soube que não era a única. Uma aluna relatou que Freddy chegou a abraçá-la por trás em um treino, um comportamento inadequado para um professor. Todos os episódios teriam ocorrido este ano.
O caso foi levado à diretoria da escola na sexta-feira passada. No mesmo dia, Freddy foi demitido. Uma porta-voz da mantenedora do Colégio João XXIII afirmou à coluna que a escola não tem responsabilidade pelo ocorrido. “Primeiro lugar: ele fez isso no WhatsApp particular dele [na verdade, no Instagram], não na escola. Mas ele foi demitido assim que nós soubemos”, afirmou a porta-voz, que alegou desconhecer casos de assédio dentro do colégio, como relataram pais ouvidos pela coluna.
De acordo com a porta-voz, que fez questão de ressaltar que o colégio, ainda que leigo, tem moral católica, a escola ainda não decidiu os próximos passos. “O que for requerido em termos de apoio psicopedagógico, a gente tem estrutura para fornecer. Nós temos um serviço social com toda essa infraestrutura. A orientação educacional também pode se colocar presente, conversar com as alunas, com os pais”.
Formado em Educação Física pela USP, Freddy tem passagens por diversas escolas de elite de São Paulo. Antes do Colégio João XXIII, também trabalhou no Bandeirantes, na Vila Mariana, e, por mais de 10 anos, no Albert Sabin, no Butantã. As duas escolas informaram à reportagem que nunca receberam queixas sobre ele. Apesar disso, pessoas ouvidas pela coluna afirmaram que Freddy disse a amigos que foi demitido do Sabin depois de reclamações dos pais de uma aluna.
A reportagem tentou contato com Freddy, mas ele não respondeu às mensagens enviadas pelo WhatsApp nem atendeu as ligações. À família de uma das alunas reclamantes, que o procurou pelas redes sociais, negou que seu comportamento fosse de assédio. “Juro pelo que há de mais sagrado em minha vida que não houve nenhuma intenção de assédio”, afirmou, antes de pedir desculpas. “Gostaria de expressar o quanto me arrependo e imploro a vocês que creiam nisso. Já estou sem rumo diante do que causei. Infinitamente perdão a todos vocês”.
Os pais estudam entrar na Justiça contra o professor. A reportagem não conseguiu confirmar se Freddy, que desabilitou seu perfil em redes sociais, treina outras equipes.
Fonte: UOL