PASADENA, Califórnia – Depois de viajar quase cinco anos pelo espaço, a sonda Juno entrou na órbita de Júpiter na madrugada desta terça-feira, completando um importante passo na missão de US$ 1,1 bilhão que busca informações sobre a atmosfera do planeta que podem ajudar os cientistas a entender as origens do Sistema Solar.
— Bem-vindo a Júpiter — disse um comentarista no controle da missão no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa (JPL) em Pasadena, Califórnia.
A sala de controle da missão explodiu em comemoração quando a sonda alimentada por energia solar, que viajou 2,8 bilhões de quilômetros desde seu lançamento, em agosto de 2011, entrou com sucesso na órbita de Júpiter, à 0h53m (horário de Brasília).
— Estamos dentro! — gritou o cientista-chefe da missão, Scott Bolton.
A sonda de quase quatro toneladas realizará uma série de 37 órbitas polares em torno de Júpiter durante uma missão científica de 18 meses. Nestes sobrevoos, a Juno passará muito mais próxima da atmosfera de Júpiter do que o recorde anterior de 43 mil quilômetros estabelecido pela sonda americana Pioneer 11, em 1974, chegando a apenas 4,2 mil quilômetros de sua cobertura de nuvens.
Depois das duas a três primeiras órbitas de 53,5 dias, Juno manobrará para, a partir de outubro, entrar em uma órbita de 14 dias. Durante seus sobrevoos, os instrumentos da sonda penetrarão a espessa camada de nuvens para estudar as gigantes auroras, sua atmosfera e seu gigantesco campo magnético.
— Juno se aproximará de Júpiter a uma distância sem precedentes, para revelar seus mistérios — destacou a responsável pelo programa da Nasa, Diane Brown.
Um dos principais objetivos da missão será compreender melhor do que é composto o interior, até agora inobservável, do planeta gigante.
A Juno, lançada no dia 5 de agosto de 2011, também vai cartografar os campos gravitacionais e magnéticos de Júpiter para determinar sua estrutura interna.
Os nove instrumentos da sonda, entre eles vários europeus, incluindo franceses e italianos, também vão medir as emissões radiométricas da atmosfera profunda do planeta, o que permitirá conhecer sua composição, sua estrutura e seu ambiente ionizado.
— Hoje não se sabe se Júpiter possui ou não um núcleo sólido — explicou Tristan Guillot, diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França e membro da equipe científica da missão Juno, ressaltando que a sonda permitirá fazer medições 100 vezes mais precisas que as hoje disponíveis.
A Juno não apenas deve ajudar a descobrir os segredos que cercam Júpiter, como também fornecerá novos indícios sobre as condições existentes nos primórddo Sistema Solar, quando o planeta ainda estava em formação.
Os responsáveis pela missão advertiram sobre os riscos potenciais para Juno ao se aproximar tanto do planeta. Eles mencionam principalmente a camada de hidrogênio – 90% da atmosfera – submetida a uma pressão tão grande que atua como um poderoso condutor elétrico.
Segundo os cientistas, este fenômeno, combinado com a rápida rotação de Júpiter – um dia no planeta dura apenas 10 horas terrestres -, gera um campo magnético muito potente que cerca o planeta e que pode ameaçar a sonda.
Para se proteger das fortes radiações, a Juno possui uma sólida armadura de titânio que cobre seus instrumentos eletrônicos, seu computador de bordo e seus cabos elétricos. Com 172 quilos, esta abóbada reduzirá as exposições às radiações 800 vezes em comparação com a parte não protegida.
A Juno leva a bordo ainda três estatuetas da Lego feitas de alumínio. Elas representam Júpiter, o rei dos deuses na mitologia romana, sua esposa e irmã Juno, e Galileu, o cientista italiano que descobriu as quatro grandes luas de Júpiter.
Há mais de 20 anos, a missão Galileu da Nasa permitiu estudar as luas de Júpiter, entre elas Europa, dotada de um oceano de água sob sua espessa camada de gelo, onde podem existir organismos vivos.
POR O GLOBO / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS