SÃO PAULO – Os investidores na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) reagiram de forma positiva ao acolhimento do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O índice de referência Ibovespa fechou em alta de 3,29%, aos 46.393 pontos, puxado pelo desempenho das estatais. Já o dólar comercial recuou 2,24%, cotado a R$ 3,747 na compra e a R$ 3,749 na venda, mas nesse caso foi um movimento ditado pelo cenário externo.
Na Bolsa, as atenções estão concentradas no andamento do processo após o acolhimento do pedido de impeachment. A decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi anunciada após o fechamento dos mercados na quarta-feira. O movimento de compra, no entanto, ficou concentrado nos investidores que buscam ganhos no curtíssimo prazo, os chamados “traders”.
— A alta reflete que o mercado gosta da ideia do impeachment. Por outro lado, há toda uma tramitação e quanto mais demorar, maior pode ser o problema para a economia. No curto prazo, um processo de impeachment poe complicar ainda mais a aprovação das medidas de ajuste fiscais que são necessárias para o país não perder o grau de investimento — avaliou Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.
Assim como nas eleições, em que a volatilidade era elevada a cada pesquisa que mostrava o avanço da oposição, as ações que mais reagiram à notícia do acolhimento foram as de estatais e bancos. Os operadores afirmaram ainda que os investidores de médio e longo prazo continuam evitando a Bolsa neste momento, uma vez que as perspectivas para a atividade econômica, e consequentemente para o lucro das empresas, não são das melhores.
As ações preferenciais (PNs) da Petrobras subiram 6,11%, cotadas a R$ 7,98, e as ordinárias (ONs, sem direito a voto) avançaram 3,48%, a R$ 9,80. Na quarta-feira à noite, os recibos de ações (ADRs, na sigla em inglês) da estatal negociados na Bolsa de Nova York já haviam registrado forte alta após o anúncio de Cunha.
Também tiveram alta expressiva os papéis do setor bancário, que possuem o maior peso na composição do Ibovespa. As preferenciais do Itaú Unibanco e do Bradesco avançaram, respectivamente, 6,34% e 4,38%. No Banco do Brasil, a alta é de 8,40%.
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O pregão também contou com ganhos nos papéis da Eletrobras, cujas ações PN subiram 2% e os ONs tiveram valorização de 3,81%.
Os investidores repercutem também a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que indica que o Banco Central (BC) pode elevar ainda mais os juros para conter a inflação. Atualmente a Selic está em 14,25% ao ano.
TEMOR DE REBAIXAMENTO
Já no mercado de câmbio, o que contribuiu fortemente para a queda da cotação do dólar foi o cenário externo, com o Banco Central Europeu (BCE) dandomenos estímulos monetários que o esperado. Como a liquidez ficará abaixo do esperado, o euro ganhou forte ante o dólar e ajudou na desvalorização global da moeda americana. O “dollar index” da Bloomberg, que mede o comportamento do dólar frente a uma cesta de dez moedas, registrava recuo de 2,09% no encerramento dos negócios no Brasil.
— Essa questão externa, da decisão do BCE, acabou levando à desvalorização do dólar. No final do pregão, também pesou o rumor de entrada dos recursos para a compra da fatia do BTG na Rede D’Or — explicou Ítalo Abucater, gerente de câmbio da corretora Icap do Brasil.
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Os investidores também repercutiram, em especial no início das negociações, a aprovação da meta fiscal de 2015. Em tese, essa aprovação impede novos cortes no Orçamento, que poderiam paralisar ainda mais o governo.
— O que mais fez preço no dólar internamente no inicio dos negócios foi a revisão da meta. Se o governo não conseguisse aprovar isso, o cenário de um novo rebaixamento ganharia mais força. Mas o processo de impeachment também ajuda, uma vez que desde as eleições os investidores reagem de forma positiva à possibilidade de uma mudança de governo — afirmou Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor.
Entre analistas, o maior temor em relação ao cenário político e interno é a possibilidade de perda do grau de investimento por mais uma agência de classificação de risco. Na Standard & Poor’s o Brasil não possui mais o selo de bom pagador. Na Moody’s e na Fitch o país está apenas uma nota acima do nível especulativo.