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imagesO Nordeste vem ao longo dos anos perdendo suas referências culturais que integravam o cotidiano de sua gente. A nossa cultura, riquíssima e variada, fazia com que a comunidade tivesse uma diversificação de atividades que atraiam jovens e idosos. Em minha juventude, mesmo sem aqui residir, tive o prazer de apreciar a exibição em praça pública dos inúmeros folguedos integrantes desse acervo. Os grupos folclóricos, que tinham presença marcante e infalível em todas as festas religiosas, eram procurados por todos que disputavam vagas para fazerem parte dos grupos e se apresentarem nas ocasiões propícias.
Lembro das “cheganças” que tinham seu palco apropriado, dos guerreiros, pastoris, baianas. Lembro das cavalhadas que eram disputadas pelos cavaleiros locais com o grande orgulho e vaidade. Tudo era de uma singeleza, e de beleza indescritível até.
Lembro vivamente do que acontecia até bem pouco tempo no período junino onde cada bairro, cada povoado fazia questão de ter seu arraial e erguer seu palhoção para abrigar as quadrilhas locais e de visitantes.
Em Marechal Deodoro, chegou-se inclusive a ser montada uma estrutura da tradicional casa de farinha no Cais da Lancha fazendo parte da cenografia e atraindo muitos turistas que têm a curiosidade pela cultura regional. A população aguardava com ansiedade para viver ativamente a saudável disputa entre as inúmeras quadrilhas animadas pelos trios regionais locais num autêntico forró pé-de-serra. O milho verde era assado nas fogueiras ali montadas e após às apresentações dos grupos o forró rolava até o dia amanhecer para alegria dos exímios dançarinos.
Para nossa tristeza, depois da Cultura da Rede Globo impondo as caricatas quadrilhas juninas “da Xuxa”, a nossa real e indiscutível tradição sequer é lembrada. Há bem pouco tempo atrás havia um espetáculo que primava pela singeleza e pela criatividade popular, impregnado nas indumentárias, nas maquiagens originais e de baixo custo, na marcação dos passos e comandos, tudo com um humor marcante. Havia uma característica de improvisação que arrebatava alegria e risos de todos – participantes e público. A premiação era dada até para a ornamentação dos palhoções que eram erguidos pelos bairros da capital e cidades interiorana, normalmente por órgãos públicos ou emissoras de rádio e TV. Tudo simples como deve caber a uma manifestação tipicamente popular.
Hoje o que vemos? Uma réplica do carnaval carioca do Sambódromo com a opulência das Escolas de Samba, só que adaptada ao que foi nossa realidade nordestina. As quadrilhas juninas com seus uniformes ricamente desenhados e produzidos, coreografia profissional, ganham em ostentação que se amplia a cada ano. É bonita sim, mas daí a chamar de tradição da cultura local me deixa dúvidas.
Além do benefício que as tradicionais traziam aos jovens com o incentivo à sua criatividade e participação efetiva na preparação da festa, da manutenção da cultura local e da diversão distribuída de forma equânime e mais acessível pelos recantos dos municípios, poderíamos lembrar ainda o prestígio que era dado aos músicos locais com o aproveitamento das bandas e trios de forró regionais.
Não somos contrários às suntuosas estruturas montadas e às bandas famosas para atrair e receber os visitantes, mas que estas não existam em detrimento dos humildes palhoções e do incentivo à manutenção da tradição do nosso querido Estado das Alagoas.