Temer, 10 dias no Planalto: os escorregões do presidente interino

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O presidente da República em exercício, Michel Temer, se reúne com líderes partidários da Câmara dos Deputados, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) – 17/05/2016
O presidente da República em exercício, Michel Temer, se reúne com líderes partidários da Câmara dos Deputados, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) – 17/05/2016(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

É comum que o marco de 100 dias de um governo seja tema de reportagens que escrutinam os erros e acertos do presidente da República no período. Mas a gestão interina de Michel Temer não dispõe de tanto tempo para mostrar a que veio. E é por isso que o site de VEJA preparou um balanço dos dez dias em que o peemedebista está à frente do Palácio do Planalto, completados neste domingo. Desde a confirmação do afastamento da presidente Dilma Rousseff, Temer e sua equipe têm caído em cascas de banana muitas vezes colocadas no caminho pelo próprio partido ou membros do governo. O interino e seus ministros também demonstraram falta de sintonia em declarações públicas – e se tornaram alvo de reclamações em decorrência da formatação da equipe ministerial.

Na terça-feira, o ministro Geddel Vieira Lima (Governo), fiel aliado de Temer e um dos mais requisitados por parlamentares ávidos por cargos, escancarou que Temer havia ficado descontente com as declarações de ministros e determinado que apenas os titulares da área econômica falassem sobre as ações em planejamento. Geddel pediu “calma e e paciência” com Temer e alegou que o governo era recente e não teve período de transição. “Determinadas declarações estão indo para a opinião pública de uma forma que em vez de contribuir estão criando dificuldades”, disse.

Nada indica que Temer terá um governo tranquilo pela frente – e nem tanto tempo para se planejar. Terá de lidar com a ameaça constante da Operação Lava Jato, inclusive sobre o PMDB, o risco de crescimento do desemprego até a alarmante taxa de 14% e a oposição de partidos com capacidade de mobilização social como PT e PCdoB. Além disso, lida com uma série de “bombas” orçamentárias deixadas pelo governo Dilma Rousseff. O argumento de que o governo teve pouco tempo para ser organizar e decidir é, no mínimo, pouco crível. Desde o fim do ano passado, quando percebeu a fragilidade de Dilma ante o avanço do impeachment, Temer fez o PMDB lançar um programa de governo fora do período eleitoral – algo atípico -, posicionou-se como preparado para assumir o cargo e passou a articular forças políticas e no mercado a seu favor. Agora, será cobrado pelo que prometeu.
Os tropeços de Temer

 

O vai-e-vem da Cultura

O vai-e-vem da Cultura

Temer provocou a ira do setor artístico ao rebaixar o Ministério da Cultura para uma Secretaria Nacional do Ministério da Educação. De pronto, pipocaram pelo país ocupações com palavras de ordem “Fora Temer” como a da Funarte, em Brasília, e a do Palácio Gustavo Capanema, no Rio. O presidente interino tentou, sem sucesso, nomear uma atriz para o cargo, ouviu uma série de nãos e terminou por escolher o então secretário de Cultura do prefeito carioca Eduardo Paes (PMDB), Marcelo Calero. Depois de tanto desgaste, Temer acabou cedendo à pressão e devolveu à Cultuta o status de ministério.

E o ministro da Justiça falou demais

E o ministro da Justiça falou demais

Justo em sua primeira segunda-feira no cargo, o presidente interino teve de lidar com um problema provocado não pela gestão da antecessora, mas pela falta de sintonia com sua própria equipe. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Moraes sugeriu, ao analisar a forma de escolha do chefe do Ministério Público Federal, que Temer poderia mudar a tradição de nomear o mais votado. Em vez de indicar o candidato mais votado da lista tríplice para procurador-geral da República, poderia colocar no cargo alguém de sua confiança. Temer rebateu em nota: “Quem escolhe o procurador-geral, a partir da lista tríplice, é o presidente da República”. Moraes, que foi promotor de Justiça em São Paulo, afirmou depois que escolher o mais votado “é muito bom para o MP”.

Entrevistas erráticas na Saúde

Entrevistas erráticas na Saúde

Mal sentou na cadeira de ministro da Saúde, o deputado licenciado Ricardo Barros (PP-PR) deu declarações controversas em entrevistas. Afirmou que era preciso rever o tamanho do SUS porque o país não era capaz de sustentá-lo financeiramente – e recuou dias depois; defendeu que as igrejas, por princípio avessas ao aborto, façam parte das discussões sobre o tema e afirmou que a liberação da pílula do câncer – fosfoetanolamina – sem eficácia comprovada clinicamente, teria ao menos um efeito placebo: “A fé move montanhas”.

A ficha corrida do líder do governo

A ficha corrida do líder do governo

Emparedado pelos partidos do centrão, Temer acatou a indicação do deputado André Moura (PSC-SE) como seu líder de governo na Câmara, com liberdade para falar e fazer negociações em nome do presidente interino. Moura é um dos mais próximos aliados do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e escudeiro da tropa de choque que manobra para evitar a cassação dele. Além disso, Moura é investigado na Operação Lava Jato e suspeito de tentativa de homicídio em Sergipe. Temer evitou as câmeras e até agora não comentou a indicação de Moura, criticada, por exemplo, pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Temer também nomeou, no segundo escalão do Planalto, funcionários de confiança que trabalharam para Cunha, como o subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, advogado do PMDB nacional, e o chefe de gabinete da Secretaria de Governo, Carlos Henrique Sobral, ex-assessor da Presidência da Câmara.

Logo fora de ordem

Logo fora de ordem

A divulgação de que a escolha da logomarca do governo interino com o lema “Ordem e Progresso” teve palpites decisivos da primeira-dama interina Marcela Temer e do filho do casal, Michelzinho, criou mais um desgaste a Temer. O desenho incorporou uma versão antiga da bandeira nacional, com menos estrelas do que as 27 que constam na atual. A produção foi do marqueteiro Elsinho Mouco, amigo pessoal de Temer, e que trabalha para o diretório nacional do PMDB e a Fundação Ulisses Guimarães – mas não tem contrato com o governo federal. Mouco disse que a versão da logo, que abusa do tom azul, passava leveza e transparência, mas ainda não era a arte final.

A indefinição sobre a CPMF

A indefinição sobre a CPMF

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deve definir em breve se o governo Temer vai ou não propor um novo tributo, ou a recriação da CPMF, como forma de elevar a arrecadação e equilibrar as contas do governo. Primeiro, vai pedir a revisão da meta fiscal no Congresso Nacional. A volta do imposto do cheque, tema tratado como tabu no governo peemedebista, desagrada aliados de Temer no setor industrial e não tem apoio sequer da base governista. O presidente interino e o PMDB rechaçaram a CPMF quando proposta pelo governo Dilma Rousseff. Ao mesmo passo, a troca de governo ainda não equilibrou a cotação do dólar e não trouxe melhora na expectativa por novos investimentos e criação de empregos.

Ministério de investigados poucos notáveis

Ministério de investigados poucos notáveis

Formado majoritariamente por ministros políticos indicados pelos partidos aliados, Temer não cumpriu a promessa de montar um primeiro escalão de profissionais notáveis. Reproduziu o governo de coalização do qual participou na era PT e aceitou até deputados do baixo clero da Câmara. Seis de seus ministros são formalmente investigados no Supremo Tribunal Federal: Romero Jucá, José Serra, Gilberto Kassab, Ricardo Barros, Maurício Quintella Lessa e Helder Barbalho. E três foram citados na Operação Lava Jato: Henrique Eduardo Alves, Geddel Vieira Lima e Romero Jucá, alvo de inquérito também da Operação Zelotes, por suspeita de cobrança de propina para facilitar a tramitação de medidas provisórias.O trote hermano

O trote hermano

Ainda na quinta-feira em que foi noticiado para assumir a Presidência, Temer caiu num trote da rádio El Mundo, de pouca audiência na Argentina. O locutor se fez passar pelo presidente argentino Mauricio Macri e deixou cumprimentos ao peemedebista. E Temer caiu na conversa sem graça e pouco à vontade com um radialista de voz e forma de falar bastante diferentes das de Macri.

Clube do Bolinha do primeiro escalão

Clube do Bolinha do primeiro escalão

Substituto interino da primeira presidente da história, Temer formou um primeiro escalão ministerial sem nenhuma mulher, um erro político simbólico que deu munição a seus antagonistas. Culpou, em parte, a falta de indicações dos partidos aliados. Disse que teve pouco tempo e agora tenta colocar mulheres em cargos de segundo escalão, medida paliativa. Já escutou reclamações até da bancada feminina que o apoia na Câmara dos Deputados e prometeu nomear uma ministra quando – e se – fizer a primeira reforma ministerial. Como “vacina” entregou o BNDES para a economista Maria Sílvia Bastos Marques e a Secretaria de Direitos Humanos para a procuradora Flávia Piovesan.

fonte:veja

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