Em 2017, Dutra abriu inquérito para investigar presença de repórteres em ação do Ibama

A Polícia Federal prendeu um delegado da própria instituição nesta terça-feira (15), em Santarém (PA). Alexandro Cristian dos Santos Dutra é acusado de vender informações a donos de garimpo da região do rio Tapajós, a maior área de mineração ilegal de ouro do país.
A prisão temporária de Dutra, decretada pela Justiça Federal de Itaituba (PA), foi revelada pelo Blog do Jeso e confirmada pela Folha de S.Paulo. Em nota, a PF informou que “um servidor público federal teria recebido ao menos R$ 150 mil de garimpeiros da região de Itaituba, como forma de ‘blindá-los’ de eventuais ações policiais”. O comunicado não mencionou que se trata de um delegado.
Segundo a PF, um lobista dos mineradores intermediava o pagamento ao delegado e repassava as informações privilegiadas. À época, Dutra estava lotado em Itaituba.
Além do delegado, o suposto lobista, de nome Paulo Ney, também foi preso na terça. Em paralelo, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em Santarém, Itaituba e São Paulo.
Batizada de Fool’s Gold (ouro de tolo, em inglês), a operação da PF visa “desarticular um grupo criminoso investigado pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, violação de sigilo funcional, advocacia administrativa e associação criminosa”.
Em 2017, Dutra, à época em Itaituba, abriu um inquérito com o pretexto de investigar por que os repórteres da Folha Fabiano Maisonnave, que assina este texto, e Avener Prado foram convidados pelo Ibama para acompanhar ações contra mineração ilegal de ouro.
Intimados a depor, os repórteres foram questionados sobre os valores de seus salários e sobre os detalhes da destruição, por parte do Ibama, de uma balsa de garimpo no rio Jamanxim, afluente do Tapajós. O operativo ocorreu dentro de área protegida federal, vetada à mineração.
O equipamento pertencia a Luis Rodrigues da Silva, o Luis Barbudo, então presidente do Movimento em Defesa da Legalização da Garimpagem Regional. À época, ele estimou o prejuízo em R$ 1,5 milhão e alegou que a balsa estava parada no local porque o motor havia quebrado.
Após os depoimentos, realizados por meio de carta precatória, os repórteres não foram mais intimados. Nenhum servidor do Ibama foi punido pelo caso.
FOLHAPRESS