Quarta-feira, 20 de outubro de 2024: Pedro Robério Nogueira entregou ao presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, Jaime Lustosa de Altavila, o provável único exemplar original do livro “O Problema do Álcool-Motor”, publicado em 1942. Mais uma preciosidade coletivizada no acervo do principal museu alagoano. Joia de valor histórico e não pecuniário, pois o livro hoje está reeditado, felizmente, em edição facsimilar.
LONGA BUSCA
Durante anos se buscou um exemplar d’O Problema do Álcool-Motor. Não havia registro da obra em lugar nenhum, apenas a referência bibliográfica nos compêndios especializados. Com a relevância reconquistada para o etanol, durante o segundo governo Lula (2006/2010) o interesse pela obra pioneira aumentou, mas a dificuldade para a sua localização o devolveu ao esquecimento. Menos para Pedro Robério, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Alagoas (Sindaçúcar), que seguiu perseguindo o cálix sagrado do etanol. Em 2012, finalmente, um raro exemplar, quiçá único, foi descoberto num alfarrábio do Rio de Janeiro pelos caçadores de arcas perdidas contratados por ele. Dez anos depois, após tentativas várias (redigitação, adequação às novas regras ortográficas, tradução dos valores de réis para reais, e outros tantos atropelos editoriais próprios do cuidado com antigas obras técnicas), optou-se pela clássica e descomplicada impressão em fac-símile. A produção final teve a parceria do então governador Renan Filho. Finalmente, marcando os 80 anos de fundação do Sindaçúcar/AL, a rara edição de 1942 foi doada ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.
OBRA HISTÓRICA
Em 23 de junho de 1927, foi lançada, com toda pompa e circunstância, no Recife, com direito à campanha publicitária, a primeira versão comercial do álcool como combustível no Brasil. O produto chamava-se USGA, sigla para “Usina Serra Grande Alagoas”, fabricado pelo empresário Carlos Lyra, em São José da Laje. Apesar do êxito inicial conquistado no Nordeste, o novo carburante não conseguiu se impor frente ao cartel do petróleo. Nos anos 40, explodiu a demanda por outra fonte além dos derivados do petróleo para motores à explosão, por conta das agruras da II Grande Guerra Mundial. Moacyr Soares Pereira, alagoano do Engenho Gulandim dos Olhos d’Água, químico industrial e notável intelectual, debruçou-se sobre as dificuldades operacionais e econômicas e, propondo soluções, escreveu “O Problema do Álcool-Motor”, publicado pela Livraria José Olympio Editora (Rua do Ouvidor, 110, Rio de Janeiro), prefaciado por José Lins do Rego.
AUTOR E PERSONAGEM
Moacyr Soares Pereira (1907/2001) merece uma biografia digna desse nome. Sobre ele, na edição contemporânea consta um posfácio, fraco, escrito por este que vos escreve. Mas, bom mesmo é o prefácio de Zé Lins, do qual aqui vai um parágrafo (na ortografia de 1942): “Moacyr Pereira conheceu intimamente o que é um engenho e o que é uma usina. Conheceu até o âmago a história de uma cultura que foi de esplendor para cair na decadência mais sombria. E’ êle, porém, mais do que um senhor de engenho, mais do que um usineiro, é um homem que sente a vida como um criador, como seu intérprete. E escreveu um livro que vale, não só como um documentário, pelas suas cifras e pelos seus confrontos, mas como a interpretação de um problema que êle penetrou como poucos”. Para Pedro Robério, parabéns pela obstinação.
Para quem se interessar pela nova edição, na falta de uma livraria em Alagoas que ofereça livros alagoanos, recomenda-se procurar o Sindaçúcar/AL.