FERVEM OS ESTADOS DESUNIDOS na fogueira de iniquidades acendida por Donald Trump. Fervura pouca, se comparada ao nível de estupidezes presidenciais em cometimento. Em verdade, apenas Los Angeles deu um passo à frente no quesito “defesa da democracia e dos direitos humanos”. Mesmo solitário, o protesto angelino chama a atenção do globo, expondo a vergonha do resto da grande nação estadunidense aguentar calada a canga sobre o lombo, sem dar um pio, mantendo a consigna da pasmaceira das maiorias silenciadas frente às minorias dominadoras e endinheiradas. Los Angeles, ao se revoltar contra o oligarca Trump, risca um palito de fósforo no buraco da extrema-direita e ilumina a esperança na capacidade de reação da humanidade.
NÃO SÃO, OS ESTADOS UNIDOS, uma nação superior às demais, muito menos “a maior democracia do mundo”. Isso é mito, mentira, como – aliás – todos os mitos o são. Trump é a elite americana sem máscara, reduzindo a pó as ilusões sobre “a terra da liberdade”. Diferiram, sim, os Estados Unidos do resto do globo, como libertadores, quando proclamaram sua independência da Inglaterra, em 1776. Ali foram revolucionários. Mas, logo em seguida, as elites ianques passaram a cometer as mesmas velharias e velhacarias reacionárias dos velhos sistemas. Das 13 colônias que, no século XVIII, encantaram os corações e as mentes sedentas por liberdade em todo o planeta, a república estadunidense virou uma potência violenta, antidemocrática, corrupta e opressora: os ianques exterminaram as populações nativas, assaltaram à mão armada vastidões territoriais (pilharam 55% do território mexicano, mais de dois milhões de quilômetros quadrados, entre 1830 e 1848) e espalharam suas tropas por cerca de 800 bases militares em todos os continentes, enfiadas em mais de 80 países.
TUDO O QUE ERA SÓLIDO SE DESMANCHA NO AR – como constatou o Manifesto escrito por Marx e Engels em 1848, frase reproduzida como como título do best-seller de Marshall Berman (1940/2013), proeminente filósofo marxista estadunidense. Apois: tudo que era sólido no mito americano (“exemplo” de democracia, empreendedorismo, liberdades várias, ausência de tentativas de golpes de estado, inexistência de corrupção, separação dos interesses públicos e privados…) está sendo desmanchado no éter por implacáveis pauladas de Donald Trump. No colosso do Norte, a democracia está solapada, o empreendedorismo avacalhado pelo protecionismo estatal, as liberdades esmagadas, um golpe de estado foi tentado em 6 de janeiro de 2021e os golpistas perdoados em 2025, a corrupção correu desenfreada na compra de votos (feita abertamente por Musk em benefício de Trump em 2024), e a briga entre Musk e Trump descortinou contratos bilionários pelos quais o tesouro americano despeja montanhas de dólares públicos nas privadas empresas X… São os Estados Unidos, ao fim e ao cabo, mais uma república bananeira. Bananeiros tão autocratas e perversos quanto os caudilhos cucarachos, latinos e africanos, até então caricaturizados pelos ianques como oligarcas inferiores – but they are the same shit (favor consultar o tradutor google).
DO OUTRO LADO DA MOEDA, parcela significativa do povo estadunidense é exemplo de luta e resistência, como reafirmam os revoltosos californianos destes dias. Grandes jornadas de luta interna, ao longo dos séculos, foram e são referências para a humanidade, como a longa jornada pelos direitos civis e contra a discriminação racial, a resistência ao macarthismo, as batalhas pelas liberdades sexuais e comportamentais, a contracultura, a campanha contra a guerra do Vietnã… força libertária, corajosa, luminosa, que ressurge nas ruas de Los Angeles, comprovando que não pode existir união das forças democráticas com a extrema-direita em nenhum lugar – nem na América sob o tacão de Trump.
PostsExemplos – de autoritarismo e de resistência – que vêm do Norte
