GENTE, ALGUÉM VIU POR AÍ aquele Jair Messias de 2021? Aquele, brabo que nem siri na lata, que, no dia 7 de setembro, em comício na Avenida Paulista, berrou: “Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha!!”. Pra onde foi o valente? Não foi pra linha de frente, ao contrário da embolada de Manezinho Araújo. Anteontem apareceu defronte ao Ministro Alexandre de Moraes um sujeitinho fofinho, mesuroso, desenxabido.
AUTO-HUMILHAÇÃO À PARTE, o importante é o registro, inédito na história do Brasil, de oficiais superiores das Forças Armadas prestando contas por seus malfeitos perante um tribunal civil, de acordo com a Constituição. O mito pudibundo não deve ser considerado “oficial superior”, pois tendo passado pelas fileiras do Exército, há muito se afastou da farda, e, quando capitão, sentou-se no banco dos réus por duas vezes (condenado e descondenado); tem olhos acostumados ao sol quadrado. Mas generais, almirantes e brigadeiros respondendo por tentativa de golpe de estado, aí sim, é fato histórico, é a afirmação do Estado Democrático de Direito como realidade e não idealidade.
NÃO SE JULGA TÃO-SOMENTE o acontecido em 8 de janeiro de 2023. Aquilo foi o espasmo final, na base do “se colar colou”. Não rolou. Não foi a primeira vez, na longa e vergonhosa história de golpes no Brasil, que uma minoria golpista falhou em intimidar e subjugar a maioria não-golpista das Forças Armadas. A diferença está no fato singular de, desta vez, essa minoria criminosa não ter sido perdoada imediatamente (e assim capacitada para tentar novamente). Entretanto, um golpe autoritário foi tecido durante todo o mandato do ex-capitão, o comandante supremo das movimentações pela intentona. Aliás, Jair Falso Messias jamais negou sua motivação antidemocrática – até anteontem.
VIVEU O BRASIL QUATRO ANOS DE URDIMENTO de um golpe militar. Os fatos são eloquentes dessa intenção manifesta em gestos, falas e atos do hoje principal réu, ontem presidente da República. Pontas desse iceberg golpista ficaram muito visíveis – por exemplo – quando das exonerações, em março de 2021, do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e dos comandantes das três armas, general Edson Pujol (Exército), almirante Ilques Barbosa (Marinha) e brigadeiro Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica). Os quatro confrontaram o projeto autoritário do ex-capitão Jair messiânico e, quatro meses antes de serem excluídos, em novembro de 2020, divulgaram uma inusitada nota conjunta reafirmando a separação entre as Forças Armadas e a política – era um alerta militar sobre as intenções do “comandante supremo”.
UMA PERGUNTA NÃO QUER CALAR: qual a motivação da violenta onda de ataques do bolsonarismo contra o general Santos Cruz? Antes de completar seis meses de governo, em junho de 2019, Jair Messias demitiu-o da estratégica Secretaria Geral da Presidência da República, depois do oficial ser bombardeado publicamente – dentre outros energúmenos – pelo filhote Zero-dois, o Carlucho, e pelo finado provocador Olavo de Carvalho (que insultava repetidamente o militar, chamando-o de “bosta engomada”). Santos Cruz silenciou, mas, duas semanas depois de sua exoneração, em entrevista à Julia Duailibi (Globo News) e Daniel Bramatti (Estadão), afirmou: “Os irresponsáveis estão vivendo tempos de glória”. E, após o resultado das urnas em 2022, foi suscinto, ao criticar o silêncio teimoso do derrotado, para não reconhecer a derrota: “Negócio de covarde”.
POIS É: O NEGÓCIO DE COVARDE segue adiante, com o amarelamento do mito frente à Justiça. O objetivo é sensibilizar o gado bolsonarista e tentar, com um discurso suavizado, dar mais força para suas tropas no Congresso Nacional, território onde o golpe segue adiante, se bulindo tal qual cobra cascavel, balançando o chocalho no rabo, anunciando a mordida na forma de uma anistia graciosa.
O que está por trás da versão cabiscaída do capitão de milícias?
