De coadjuvante a gestora do crime. Esse é o papel ocupado hoje por Núbia Taciana Freire da Silva, esposa de José Emerson da Silva, o “Nem Catenga”, apontado como líder do Comando Vermelho em Alagoas. Moradores do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, o casal é foragido da Justiça, mas comanda de longe uma rede criminosa que abrange tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
Segundo relatório do Setor de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de Alagoas, Núbia não é apenas a companheira de um chefe do tráfico, mas uma operadora estratégica do esquema financeiro da facção.
Articulada, vaidosa e com presença frequente em fotos sorridente e bem vestida, ela coordena transações, orienta “laranjas”, antecipa ações policiais e atua como gestora de empresas de fachada.
“Núbia é um dos retratos mais emblemáticos da nova geração de mulheres no crime organizado, que já não ocupam mais posições secundárias”, avalia o delegado Gustavo Henrique, chefe do setor de Inteligência da SSP.
O relatório aponta que a renda formal da investigada não condiz com o padrão de vida que leva. Ela recebe, por exemplo, um salário de R$ 10 mil de uma empresa considerada “fantasma”, da qual seria funcionária sem nunca ter comparecido ao suposto local de trabalho — que também não existe no endereço declarado. Mesmo assim, o FGTS da suposta trabalhadora é recolhido mensalmente. Ainda de acordo com o documento, essas empresas, de pequeno porte, transferem valores elevados para contas em nome de Núbia.
Ela também teria financiado duas rinoplastias nos filhos — procedimentos que somam cerca de R$ 40 mil —, além de bancar viagens, hospedagens luxuosas, roupas e faculdade com dinheiro oriundo do tráfico.
Em 2021, a família comemorou o Réveillon em uma mansão alugada em Angra dos Reis, no litoral fluminense. Foi também identificado o uso de documentos falsos por Nem Catenga para embarques em aeroportos.
A atuação de Núbia como operadora do esquema sofisticado de lavagem de dinheiro tornou-se peça-chave nas investigações. As autoridades destacam a habitualidade das operações, a divisão clara de tarefas e a movimentação de altos valores em contas de terceiros, configurando organização criminosa nos moldes da Lei 12.850/13.
Empresas de fachada
Movimentações bancárias incompatíveis com a renda, empresas inexistentes e depósitos suspeitos. Esse é o retrato do esquema de lavagem de dinheiro comandado por Núbia Taciana Freire da Silva, apontada como peça central no braço financeiro do Comando Vermelho em Alagoas. Um relatório obtido pela Gazeta detalha a rede de dissimulação patrimonial que sustenta o estilo de vida de luxo da investigada.
Entre fevereiro e julho de 2023, durante a Operação Invisível, Núbia movimentou mais de R$ 500 mil em apenas duas contas bancárias, apesar de não possuir qualquer comércio ou emprego formal registrado. Em uma delas, foram identificados 91 depósitos em dinheiro vivo, de valores fracionados e sem identificação — juntos somando R$ 58.350,00.
As investigações também apontam que empresas usadas para a lavagem de dinheiro transferiram mais de R$ 100 mil em poucos meses para contas em nome de Núbia.
O relatório destaca que o casal Núbia e José Emerson, o “Nem Catenga”, tem interesse em adquirir imóveis de alto padrão, com valores acima de R$ 2 milhões. Parte dos recursos para essas aquisições viria da utilização de empresas de fachada e transferências simuladas — táticas típicas da lavagem de capitais.
“Apesar de nas contas principais dos líderes não haver grandes valores, percebe-se o uso sistemático de terceiros, familiares e empresas para movimentações financeiras. É um mecanismo que visa dificultar o rastreamento e a ação dos órgãos de controle”, aponta trecho do relatório da SSP.
Com forte atuação no Rio de Janeiro, onde residem no Morro do Alemão, os dois são considerados foragidos da Justiça alagoana. O modelo sofisticado adotado por Núbia para ocultar a origem ilícita do dinheiro inclui o uso de documentos falsos, empresas inativas e até a manipulação de contas bancárias de “laranjas”.