Igreja cobra na Justiça R$ 3 mi de padre por falta de prestação de contas

Ação exige auditoria de recursos destinados a projetos para dependentes químicos

Fonte: ojornalextra

Padre Walfran Fonseca

A Arquidiocese de Maceió ingressou com uma ação na 6ª Vara Cível da capital cobrando a prestação de contas de R$ 3,1 milhões repassados à Fundação Recriar entre os anos de 2018 e 2024. O valor, segundo a instituição, deveria ter sido aplicado em pelo menos dez projetos sociais voltados à capacitação profissional e reinserção de dependentes químicos e pessoas em situação de vulnerabilidade social.

A ação foi protocolada no dia 22 de abril deste ano e tem como réus o padre Walfran Fonseca dos Santos, ex-diretor tesoureiro da Recriar, e Ronnie Rayner Teixeira Mota, ex-presidente do conselho fiscal. Ambos são acusados de não apresentar documentos nem relatórios financeiros sobre os recursos recebidos por meio de convênios com o Ministério do Desenvolvimento Social.

De acordo com a petição, a ausência de transparência e de registros contábeis motivou a medida judicial. Em nota, a Arquidiocese afirmou que não há, neste momento, imputação criminal contra os ex-gestores, tratando-se apenas de uma cobrança cível com o objetivo de garantir que os valores públicos sejam devidamente justificados.

A Fundação Recriar operava no mesmo endereço da Arquidiocese, no bairro do Farol, em Maceió, e funcionava como uma federação de comunidades terapêuticas, reunindo dez instituições filiadas, como a Nova Jericó, Casa Dom Bosco, Fazenda Esperança e Rosa Mística. Parte dos convênios, cujos valores variam entre R$ 100 mil e R$ 1 milhão, permanece sem qualquer prestação de contas.

Os recursos deveriam financiar cursos profissionalizantes em áreas como padaria, marcenaria, corte e costura, encanação, serigrafia e outras ações de apoio à reintegração social de ex-dependentes químicos. A maior parte dos repasses foi realizada durante a gestão do arcebispo Dom Antônio Muniz, que renunciou ao cargo em abril de 2024.

Com a chegada de Dom Carlos Alberto Breis Pereira — o Dom Beto —, a Arquidiocese realizou uma reestruturação administrativa. Toda a diretoria da Recriar foi afastada, assim como os responsáveis pela Fundação Leobino e Adelaide Motta. Também houve remanejamento de diversos padres.

Além da ação relacionada à Fundação Recriar, o padre Walfran Fonseca é alvo de outras investigações. Ele foi denunciado por supostas irregularidades na administração da Associação Beneficente Paróquia de Santo Antônio, que teria movimentado cerca de R$ 14 milhões. A entidade mudou de sede após o afundamento de solo no bairro Bebedouro provocado pela atividade da mineradora Braskem.

Walfran também responde a um processo no Ministério Público Federal por crime ambiental, por envolvimento na extração irregular de areia em um terreno da Igreja no litoral de Marechal Deodoro. A atividade foi paralisada por decisão judicial em janeiro deste ano, após pedido da Arquidiocese. Confira o processo na Galeria de Arquivos no final da matéria.

Nota da Arquidiocese de Maceió à imprensa

A Arquidiocese de Maceió vem a público esclarecer que tramita na Justiça uma ação relativa à prestação de contas da gestão anterior sobre o projeto Recriar. Tal iniciativa segue orientações firmes da Santa Sé, que, tanto no pontificado do Papa Francisco quanto, mais recentemente, no de Sua Santidade o Papa Leão XIV, tem reforçado, de maneira clara, o compromisso da Igreja com a transparência, a boa gestão dos bens e a responsabilidade administrativa.

Destacamos que a medida foi necessária diante da ausência de informações e documentos relativos àquela gestão, de forma que a ação visa, exclusivamente, assegurar que sejam devidamente prestadas as contas correspondentes. Trata-se de um procedimento que busca garantir a lisura, o cuidado e a responsabilidade que devem nortear a administração de qualquer entidade. A Arquidiocese reafirma seu compromisso com a verdade, com a transparência e com o serviço ao povo de Deus.

Sobre a extração da areia, a atual administração da Fundação Leobino e Adelaide Mota determinou a suspensão imediata da atividade, bem como a realização de auditoria minuciosa sobre os contratos anteriormente firmados. A apuração objetiva verificar a destinação dos recursos auferidos e assegurar que todo valor tenha sido revertido para os fins institucionais.

A suspensão foi determinada pelo presidente da entidade, o Arcebispo Dom Carlos Alberto Breis Pereira. O contrato havia sido firma- do com a empresa Mandacaru Extração de Areia e Comércio de Materiais de Construção Ltda, sob condições que se encontram atualmente rescindido, em processo de revisão e análise jurídica.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *