Uma homenagem a Teotonio Vilela Filho, o político que não amava a política

TÉO VILELA, AMANHÃ, sexta-feira, em sessão solene às 11 da manhã, será homenageado pela Assembleia Legislativa de Alagoas com a Comenda Tavares Bastos. A proposta, aprovada por unanimidade, foi da deputada Cibele Moura.

NO COMEÇO, era tão-somente um dos filhos de Teotônio e Lenita. Passou a ser visível há 43 anos, inicialmente em imagem à semelhança do pai, especialmente pela bigodeira farta, em formato mais mexicano que lusitano. Em maio de 1982, foi um tremendo choque o anúncio de que um tumor incurável interrompia a carreira de Teotônio Vilela, celebridade nacional naqueles tempos. Abortada sua reeleição para o Senado, o filho de bigodão gêmeo passou a ser seu apoio físico e emocional. Fosse dia, fosse noite – e a energia do senador era inesgotável –, lá estava o jovem bigodudo. Sempre discreto, atento, segurando o braço do pai. Evitava o papel de porta-voz filial. Só falava em último caso. Acredito piamente que Téo evitava ser contaminado pela política, mas essa opção não existia.

TEOTÔNIO VILELA, em seus derradeiros 18 meses de vida, era um paciente impaciente em cumprir o papel de arauto da Redemocratização. Investia suas forças finais, multiplicando-as, na batalha pelo fim do autoritarismo. “Quem é esse viajante / Quem é esse menestrel/ Que espalha esperança / E transforma sal em mel? / Quem é esse saltimbanco / Falando em rebelião / Como quem fala de amores / Para a moça do portão?”. Enquanto Milton Nascimento e Fafá de Belém cantavam aos quatro cantos o hino Menestrel das Alagoas, e Henfil transformava o viçosense em herói de gibi, o filho discreto, atento, segurando o braço do pai, ajudava-o a percorrer o Brasil, pregando a Democracia e as Eleições Diretas, até 27 de novembro de 1983.

QUEM QUER QUE TENHA presenciado as articulações políticas entre 1982 e 1986 testemunhou a rejeição de Téo Vilela em seguir a carreira paterna. Caso fosse essa herança restrita à boemia do menestralato, haveria menos resistência, verdade seja dita. Mas o filho parceiro político do Menestrel das Alagoas abjurava a política como missão de vida. Tentou trancar a porteira por três anos, mas não teve jeito: em 1986 estava registrado “apurço” para disputar uma das vagas no Senado. As mesas do saudoso Bar do Alípio, defronte à beira da lagoa, testemunharam, naquele marinheiro de primeira viagem, as dores dos desamores pelos ritos, pela exposição pessoal, pelas engolições de sapos próprias da caça ao voto popular. Eleito, deslanchou. Deu show. De saída, cravou a Nota 10 na avalição dos constituintes, pontuação típica do cordão encarnado, desagradando a parcela mais conservadora de seu eleitorado, mas sem rompimentos. A partir daí todo mundo sabe: três mandatos como senador e dois mandatos como governador. Vou economizar digitação sobre isso.

MAS QUERO DESTACAR um gesto pouco lembrado depois de 33 anos. Em 1992, num tempo em que a apuração do tal voto impresso e auditável se arrastava por períodos inacreditáveis e possibilitava movimentações impensáveis, Téo Vilela – senador já calejado – soube abrir mão de sua candidatura, ao ver se arrastar a finalização da contagem de votos, onde teria amplas chances de ir para o segundo turno. Desistiu para apoiar Ronaldo Lessa na disputa final pela prefeitura de Maceió, ignorando os atritos do primeiro turno, e contribuindo para uma mudança marcante nos rumos na política alagoana.

DEPUTADA CIBELE MOURA, parabéns pela iniciativa. Assembleia Legislativa de Alagoas, parabéns pela aprovação. Téo Vilela, parabéns, você merece. E sigo eu em dívida com você na dura tarefa de darmos fim a umas porções de tripinha frita acompanhadas de alguns poucos mililitros de boa caninha. Devo, não nego, pagarei em breve – quem sabe no Trovador Berrante, em brinde triplo a Zé do Cavaquinho, a Teotônio Viela (com circunflexo), e às melhores tradições da Viçosa.

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