Veículo de transporte de valores foi explodido na Rodovia Luiz de Queiroz na noite de terça-feira (16), e dois passageiros de um ônibus ficaram feridos. Na ação foram roubados R$ 2 milhões, mas R$ 569,2 mil e explosivos foram abandonados durante a fuga.

A quadrilha que atacou um carro-forte e roubou R$ 2 milhões, na noite de terça-feira (16), em Santa Bárbara d’Oeste (SP), utilizou arma com capacidade de derrubar aviões, explosivos artesanais de alto potencial destrutivo e carros de luxo que foram furtados ou roubados. As informações são da Polícia Civil.
O crime ocorreu na Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304). Durante a ação dos criminosos, um ônibus fretado com 19 ocupantes foi abordado e utilizado para bloquear o trânsito e facilitar o roubo. Dois passageiros do coletivo ficaram feridos.
Os dois foram atingidos por estilhaços lançados pela explosão do cofre do carro-forte e um deles também foi atingido por dois tiros. Ambos tiveram ferimentos leves, segundo a Polícia Militar, mas a vítima baleada passará por uma cirurgia para a retirada do projétil nesta quinta-feira (18).
Até a última atualização desta reportagem, nenhum suspeito havia sido preso. A seguir, veja detalhes da estrutura utilizada pelos criminosos durante a ação:
Armas de grosso calibre
Segundo o boletim de ocorrência, os assaltantes dispararam tiros de fuzil 556 e metralhadora .50, arma antiaérea capaz de derrubas aeronaves. No vidro traseiro de um dos carros abandonados pela quadrilha durante a fuga, havia dois buracos abertos, utilizados para disparos de dentro do veículo, segundo a polícia.
Com os disparos, o grupo conseguiu danificar o sistema de segurança do carro-forte, que foi obrigado a parar na rodovia e, assim, o roubo foi realizado.
Explosivo usado em mega-assaltos
Os assaltantes deixaram explosivos em um dos carros abandonados durante a fuga. Segundo o delegado Marcel Willian Oliveira de Souza, da Divisão Especializada em Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba (SP), responsável pelo caso, eles foram neutralizados pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e levados para São Paulo (SP) para análise.
“Eram explosivos artesanais de alto poder explosivo. Eles utilizaram explosivo de metalon, em formato de tijolo, emulsão altamente explosiva e um ímã para ser acoplado na estrutura metálica do veículo”, detalha.
Em entrevista ao jornal O Globo, em agosto de 2021, o tenente-coronel Valmor Racorti, comandante do Batalhão de Operações Especiais, informou que esse tipo de explosivo vem sendo empregado em mega-assaltos e pode até ser acionado de maneira remota, por celular, ou por presença.
Entre os crimes nos quais foi utilizado está o assalto a agências bancárias em Araçatuba (SP), em 30 de agosto de 2021. Na ação, três pessoas morreram – um suspeito e dois moradores – e outras quatro ficaram feridas, segundo a Polícia Militar.
Veículos utilitários esportivos
Dois dos veículos usados no ataque ao carro-forte são utilitários esportivos (SUVs). Além disso, os dois foram obtidos pela quadrilha a partir de outros crimes.
“O Volvo foi roubado em São Paulo (SP) e o Tiguan foi furtado em Embu das Artes (SP)”, revelou o diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior 9 (Deinter 9), Kleber Altale.
No entanto, eles não foram os únicos utilizados pelo grupo. Segundo a apuração policial, três veículos ultrapassaram e interceptaram o carro-forte no local onde o veículo de transporte de valores foi atacado.
Batedores, retaguarda e ‘célula master’
Especialista em armas e segurança, Vladimir Ribeiro explica que, geralmente, quadrilhas que realizam crimes desse porte possuem integrantes com diferentes funções.
“Eles têm pessoas que fazem a frente para ver se não há forças policiais na região, eles têm batedores, pessoas que ficam na retaguarda monitorando a chegada de forças policiais e propriamente a ‘célula master’ deles, que é a célula que ataca o carro-forte. E sempre com extrema violência”, afirma.
Por que a rodovia SP-304?
Para Vladimir Ribeiro, a escolha da SP-304 para a realização do crime pode estar relacionada à sua localização estratégia e potencial econômico da região.
“Nós temos que entender que aquela região é uma região de alto desenvolvimento, é um polo industrial muito grande, existem grandes atacadistas, várias empresas que movimentam muito dinheiro lá. Pode ser que, em virtude disso, atraia ações marginais, mas não é um foco principal. Nós temos que entender também que essa mesma rodovia faz ligação com diversas rodovias importantes”.
Próximos passos da investigação
Segundo o delegado Marcel Willian Oliveira de Souza, as investigações já envolvem diferentes frentes. “Nós buscaremos o levantamento de eventuais câmeras na cidade para tentar descobrir se o carro-forte já estava sendo acompanhado, e pesquisas junto aos nossos sistemas. No local, houve a requisição de exame pericial. Aguarda-se agora o laudo com a aferição de eventuais materiais que tenham sido coletados”.
Ele também explicou que houve no local a tentativa de coleta de impressões digitais nos carros abandonados pelos criminosos. “Aguardamos outras informações técnicas, mas as buscas já foram iniciadas”, afirmou.
“O que nós temos que fazer? Buscar essa autoria e levar esses autores para a Justiça. E tentar fazer com que apreenda essas armas para que pelo menos essas não sejam utilizadas novamente”, reforçou Kleber Altale.
Em nota, a agência de turismo Monte Alegre, responsável pelo ônibus alvejado, reforçou que os passageiros receberam os primeiros atendimentos no local e depois foram encaminhados ao hospital.
“Ressaltamos que esse incidente isolado ocorreu de forma inesperada e lamentável e nossa empresa está empenhada em prestar todo o suporte necessário aos passageiros para garantir que recebam o atendimento médico adequado”, complementou.
g1