Já em setembro de 2014 o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), reagiu chamando de bandidos os delatores que começavam a indicar sua suposta participação nos esquemas investigados pela Operação Lava Jato. Era uma reação à primeira citação de seu nome, feita pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Hoje, depois de ser citado em mais um acordo de delação, do ex-diretor internacional da Petrobras Nestor Cerveró, o senador alagoano pode ter uma visão ainda mais radical contra o novo mecanismo de combate à corrupção, aprovado sob sua gestão no Congresso Nacional.
A notícia de que Cerveró revelou ter pago US$ 6 milhões em propina para o presidente do Senado e ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA), em seu acordo de delação premiada, elevou a temperatura dos bastidores políticos do Distrito Federal.
Renan acreditava que os delatores seletivos deveriam “agravar a pena desses bandidos”. Como se tivesse o dom de profetizar chegou a falar que o país passaria por um aprendizado a partir do que considerou ser “uso político da delação premiada”.
A realidade é que a forte presença das delações nas investigações, aliadas à atuação das instituições, transformou o maior esquema de corrupção do País no exemplo de que é possível recuperar o dinheiro roubado dos cofres públicos. E já foram quase R$ 2 bilhões devolvidos do petrolão.
O procurador-chefe do Ministério Público Federal (MPF) em Alagoas, Rodrigo Tenório, lembrou de um aprendizado importante trazido para a nação, a partir da melhoria do sistema processual e penal no Brasil. Durante ato público no último dia 9, Dia Internacional de Combate à Corrupção, Tenório lembrou que os inquéritos e processos resultantes da Operação Lava Jato já recuperaram para os cofres da União R$ 1,8 bilhão em recursos roubados do povo brasileiro nos esquemas do petrolão. E prevê um sistema penal e processual ainda mais rígido, a partir da aprovação de dez medidas de combate à corrupção, propostas pelo MPF e apoiadas pelos órgãos e controle.
“Até então, a maior recuperação havia sido de R$ 40 milhões. Já é uma quebra de paradigmas evidente. Democracia do Brasil tem 27 anos. Para o ser humano é muita coisa. Mas para um País, 27 anos não é nada. E se algumas dessas medidas passarem, fatalmente esse nível de impunidade vai cair”, disse Tenório.
O Chefe do MPF lembrou que fatalmente haveria mais políticos e agentes públicos condenados em Alagoas, caso mecanismos de apuração de crimes atuais já existissem na época das investigações da Operação Taturana. Mas apesar de reconhecer que há muito a melhorar, afirmou que os avanços devem ser ressaltados.
“O quadro é bom? Não. Se fosse bom, não estaríamos encampando as dez medidas. Há impunidade? Há. Mas a evolução é gritante”, concluiu.
O que é certo é que o Brasil deve seguir neste aprendizado do uso de mecanismos como o da colaboração premiada, que reduz a pena para corruptos em troca de mais informações verdadeiras sobre a dimensão dos esquemas.
Que o Brasil siga obtendo cada vez mais a condenação dos mais perigosos e covardes bandidos da nação. Sejam eles delatores ou alvos das delações.
Não conhece as dez medidas contra a corrupção? Clique aqui e apoie esta causa.
Reveja as declarações de Renan sobre a primeira citação de seu nome na delação de Paulo Roberto Costa, em setembro de 2015: