Web Rádio Juventude

Restos do foguete chinês Long March 5B, lançado em 24 de julho, devem reentrar na atmosfera da Terra neste sábado (30) às 19h24, de acordo com o Centro de Estudos de Detritos Orbitais e de Reentrada da Corporação Aeroespacial, centro de pesquisa sem fins lucrativos nos Estados Unidos. Apesar de a China estar acompanhando o retorno do foguete, o processo talvez não seja tão tranquilo. 

O lançamento foi a terceira viagem da espaçonave Long March 5B, que pesa cerca de 25 toneladas, para transportar o cabinete do laboratório espacial Wentian para a ainda incompleta estação espacial chinesa Tianhe.

De acordo com a Corporação Aeroespacial, o foguete entrou em uma descida descontrolada em direção à atmosfera terrestre e não tem um local certo para pousar. Até o momento, o campo de detritos inclui os Estados Unidos, Índia, Austrália, África, Brasil e o sudeste asiático.

Histórico chinês – Esta não é a primeira vez que a China é advertida por não lidar de forma adequada com os detritos espaciais dos estágios de um foguete. Em maio de 2021, os destroços do foguete caíram no Oceano Índico. Mas o primeiro incidente, em maio de 2020, fez com que objetos metálicos atingissem aldeias na Costa do Marfim, embora não tenha feridos.

Em 2022, por mais que os especialistas reconheçam a baixa probabilidade de os destroços atingirem pessoas – cerca de um em seis trilhões a um em 10 trilhões, de acordo com Ted Muelhaupt, especialista em espaço e consultor da The Aerospace Corporation – não excluem a hipótese, dada a experiência de dois anos atrás.

Bill Nelson, atual administrador da Nasa, afirma que as nações que exploram o espaço devem minimizar riscos para as áreas habitadas e pessoas na Terra, além de maximizar a transparência em relação a essas operações. “Está claro que a China não está cumprindo os padrões responsáveis em relação aos seus detritos espaciais”, advertiu o gestor em comunicado.

Estágios de um foguete – O primeiro estágio de um foguete, seu propulsor, é normalmente a seção mais volumosa e mais pesada. As trajetórias dos propulsores de foguetes costumam ser planejadas para evitar a órbita e cair no oceano ou, se chegarem à órbita, realizar uma reentrada controlada.

Os motores de propulsão do Long March 5B, no entanto, não podem se reiniciar depois de parados, condenando o propulsor a espiralar ao redor da Terra antes de pousar em um local imprevisível.

Devido ao seu tamanho, os propulsores do Long March 5B podem ser especialmente propensos a riscos durante a reentrada descontrolada, o que significa que porções significativas de sua massa não queimam com segurança na atmosfera.

Preocupação – Segundo a Corporação Aeroespacial, a grande preocupação é a possibilidade de detritos caírem em uma área povoada.

A China descartou essas preocupações e as considerou um exagero: em 2021, Hua Chunying, o então porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, acusou as reportagens ocidentais de serem tendenciosas nas coberturas de queda de foguetes chineses.

De acordo com o Artigo VII do Tratado do Espaço Exterior de 1967, do qual todas as principais nações espaciais são partes, qualquer país que envie um objeto ao espaço é internacionalmente responsável pelos danos que possa causar quando ele cair de volta para a Terra. Se isso acontecer, o incidente é processado em uma comissão de reclamações ou tratado por canais diplomáticos.

Em entrevista ao site Live Science, Christopher Newman, professor de lei e política espacial da Northumbria University, na Inglaterra, disse que todas as principais nações lançadoras terão partes de objetos espaciais que retornarão à Terra de maneira descontrolada, mas estabelecer um consenso internacional sobre como lidar com eles é difícil devido às atuais tensões geopolíticas.

“Este é um problema que precisa de uma solução internacional, especialmente porque objetos como corpos de foguetes são três vezes mais propensos a impactar cidades no ‘Sul Global’”, disse Newman. “Entretanto a comunidade internacional ainda não está motivada para tentar resolver esse problema.” Ele completa dizendo que um impulso para mudança só vira mais tarde, quando alguma tragédia acontecer.

Redação Galileu

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *