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Victoria Hill ficou chocada ao descobriu que o médico que fez a inseminação artificial de sua mãe era seu pai biológico. Entenda a história

As pessoas cada vez mais estão recorrendo a kits de DNA caseiros para saber mais sobre sua ancestralidade. No entanto, em alguns casos, os testes acabam revelando segredos que mudam a vida de famílias inteiras. Foi o que aconteceu com a norte-americana Victoria Hill. Ela, que mora em Connecticut (EUA), fez um teste genético, no entanto, acabou descobrindo que seu pai biológico não era o homem que a criou e que seu ex-namorado do colégio é seu meio-irmão, informou a CNN.

Por muito tempo, Victoria não entendia por que era tão diferente do seu pai tanto na aparência quanto no temperamento. Inclusive, a assistente social, de 39 anos, costumava brincar que era filha do carteiro, o que ela não esperava era que suas desconfianças faziam sentido. Após ter um problema de saúde que nenhum de seus pais tinha sofrido, ela comprou um kit de teste DNA e enviou para uma empresa de genética.

A busca rotineira por aprender mais sobre si mesma se transformou em uma série de revelações chocantes. Victoria descobriu que tinha 22 irmãos e que seu pai era o médico que fez a inseminação artificial de sua mãe. Burton Caldwell usou seu próprio esperma para inseminar a paciente, supostamente sem o consentimento dela. Recentemente, a assistente social ainda descobriu que um dos seus meios-irmãos era seu namorado do colégio. “Fiquei traumatizada com isso”, disse Victoria à CNN em entrevista exclusiva. “Agora estou vendo fotos de pessoas pensando, se elas poderiam ser minhas irmãs, qualquer um poderia ser meu irmão.”

Foi após um jantar com seus amigos do ensino médio, em maio do ano passado, que Victoria descobriu que tinha tido um relacionamento com o seu meio-irmão. Na ocasião, ela contou a história sobre seu pai biológico e deixou seu ex-namorado um pouco incomodado, pois ele sabia que seus pais também tinham recorrido a uma clínica de fertilidade para terem um filho.

Meses depois, quando estava viajando com a família, ela acabou recebendo uma mensagem de seu ex-parceiro dizendo que ele tinha feito um teste de DNA que mostrava que os dois tinham uma conexão muito próxima. “Você é minha irmã”, disse ele. Logo depois, Victoria descobriu que o ex-namorado não era seu único meio-irmão. “Eu dormi com meu meio-irmão”, disse ela. “Fui para a escola primária com outro.”

Também meia-irmã de Victória, Janine Pierson decidiu seguir com um processo contra o pai biológico delas, mesmo sabendo da falta de legislação. Além disso, ela decidiu, inclusive, encontrá-lo pessoalmente. “Ele não se desculpou de forma alguma”, disse Pierson, mas ela acrescentou que ele não negou ter usado seu próprio esperma quando trabalhava na década de 1980 em uma clínica de New Haven. “Uma coisa que realmente sempre me incomodou é que ele me perguntou quantos netos ele tinha”, disse ela. “E ele estava muito curioso sobre minhas conquistas escolares e o que eu fazia. Basicamente, como eu era inteligente.”

Ao ver que o médico estava incomodado, Janine decidiu ir embora, mas antes pediu uma foto com o pai biológico. “Eu sabia que seria a única vez que teria a oportunidade de tirar uma foto”, disse ela. “Não que eu quisesse um relacionamento com ele de alguma forma porque – era uma mistura de emoções de desprezo, mas ao mesmo tempo, sou grata por estar aqui”, apontou.

As fraudes
A história da norte-americana levantou um importante debate sobre as consequências da conduta antiética de médicos que usaram o próprio esperma durante o tratamento das pacientes. “Esta foi a primeira vez que tivemos um caso confirmado de alguém que realmente namorava, alguém que tinha intimidade com alguém que era seu meio-irmão”, afirmou Jody Madeira, professora de direito na Universidade de Indiana e especialista em fraude de fertilidade.

Diante dessa situação problemática, a CNN fez uma investigação sobre fraude de fertilidade e descobriu que a maioria dos estados, incluindo Connecticut, não tem leis contra esse tipo de prática. A falta de uma legislação acaba dando vantagem para os médicos que não enfrentam consequências dos seus atos, e, em alguns casos, continuaram a exercer a profissão, de acordo com documentos e entrevistas com especialistas em fertilidade, legisladores e várias pessoas cujos filhos são de doadores de esperma.

A popularidade dos Kits do DNA tem transformado as pessoas concebidas por doadores em “detetives online” de suas próprias origens. O movimento tem impulsionado a aprovação de novas leis para regularizar a indústria da fertilidade nos Estados Unidos, que muitas vezes, é chamada pelos os críticos como o “velho oeste”, devido à sua escassez de regulamentação em comparação com outros países ocidentais.

Falta de responsabilidade
Segundo a CNN, mais de 30 médicos em todo o país foram acusados ​​de usar secretamente o seu próprio esperma para engravidar suas pacientes. No entanto, a responsabilização pela postura antiética é escassa. Em 2019, Indiana tornou-se o segundo estado, mais de 20 anos depois da Califórnia, a aprovar uma lei que torna a fraude das clínicas de fertilidade um crime. Em algumas situações, os casos foram resolvidos fora dos tribunais e as famílias afetadas, em geral, assinavam acordos de confidencialidade, protegendo efetivamente os médicos do escrutínio público.

O médico Marvin Yussman foi um dos especialistas em fertilidade que admitiu ter usado seu próprio esperma para inseminar cerca de meia dúzia de pacientes que na época não sabiam que ele era o doador. Uma delas chegou a apresentar uma queixa ao conselho estadual de licenciamento médico quando sua filha – que nasceu em 1976 – descobriu que Yussman era o provável pai depois de enviar seu DNA a uma empresa que faz testes de ancestralidade. “Sinto-me traída porque Yussman conscientemente enganou a mim e ao meu marido sobre a origem do esperma que ele injetou em meu corpo”, escreveu a mulher em uma carta ao conselho em 2019.

Em sua resposta ao conselho médico, Yussman disse que, naquela época, o esperma fresco era priorizado em relação ao congelado, o que significa que os doadores tinham que chegar dentro do prazo. “Em ocasiões muito raras, quando o doador não apareceu e nenhuma amostra congelada estava disponível, usei meu próprio esperma”, escreveu Yussman. O médico disse ainda que alguns de seus filhos biológicos expressaram gratidão por sua existência e até lhe enviaram fotos de seus próprios filhos.

Fonte: Revista Crescer