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Afundamento de porta-aviões francês pela Marinha brasileira repercute na França

A Marinha brasileira anunciou nesta sexta-feira (3) que afundou no oceano Atlântico um antigo porta-aviões francês, que estava desativado e, segundo o Ministério Público Federal (MPF), repleto de resíduos tóxicos. A decisão, criticada por ONGs que defendem o meio ambiente, teve repercussão na França.

O procedimento “planejado e controlado ocorreu no fim da tarde” a cerca de 350 quilômetros da costa e em uma área de “profundidade aproximada de 5 mil metros”, informou a Marinha. A decisão, anunciada esta semana, causou polêmica porque o antigo porta-aviões “Foch”, de 266 metros de comprimento, está cheio de amianto, tintas e outros resíduos tóxicos, segundo várias ONGs e o MPF.

“A sucata da embarcação atualmente conta com 9,6 toneladas de amianto, substância com potencial tóxico e cancerígeno, além de 644 toneladas de tintas e outros materiais perigosos”, afirmou esta semana o MPF, que tentou evitar o afundamento com múltiplos recursos judiciais.

As notícias do impasse e, agora, do afundamento da embarcação foram acompanhadas pela imprensa da França, fabricante do navio. A “joia” da Marinha francesa, que serviu a todos as grandes operações militares do país a partir dos anos 1960, foi substituída pelo nuclear Charles de Gaulle nos anos 1990. O Foch então foi vendido para o Brasil em 2000, relembrou o consultor em Defesa Jérôme Pellistrandi, general da reserva, em entrevista à emissora BFMTV na manhã deste sábado (4).

“Havia amianto porque, na época da construção, se colocava muito. Mas a maior parte desse amianto foi retirada” antes da operação para afundar o porta-aviões, ressaltou o especialista. “Afundar aviões é algo que é feito com uma certa frequência. Os americanos já fizeram, com porta-aviões”, destacou o general, ao principal canal de notícias francês. “O que restou foram basicamente 28 toneladas de aço, tinta e um pouco de amianto”, alegou.

O assunto é destaque na imprensa escrita e online, que publica reportagem da agência AFP sobre o assunto. O texto frisa que as organizações ambientais Greenpeace, Sea Shepherd e Basel Action Network denunciaram uma “violação de três tratados internacionais” sobre o meio ambiente. Para elas, o naufrágio causará danos “incalculáveis”, com “impactos na vida marinha e as comunidades costeiras”, disseram as ONGs, em uma declaração conjunta. 

Contaminação virá ao longo dos anos, diz ONG francesa

A organização ambiental francesa Robin des Bois, que combate a poluição industrial, afirma que o navio é “um pacote tóxico de 30 mil toneladas”. À RFI, o presidenteda associação, Jacky Bonnemains, destaca que “a contaminação futura pelos produtos tóxicos não se conta em dias, mas em anos”.

“Ela vai ocorrer na medida em que toda a estrutura do navio for se degradando e que os químicos poluentes forem se soltando e se dispersando, até que, pouco a pouco, vão chegar na costa brasileira”, assegurou Bonnemains.

No Brasil, o Ministério Público Federal argumentou que “nota técnica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aponta para o risco de danos ambientais graves no caso de eventual afundamento, especialmente levando em consideração que o casco se encontra avariado”. O navio vagou por seis meses no Atlântico.

Risco de naufrágio espontâneo

Na quarta-feira (1º), a Marinha do Brasil e o Ministério da Defesa anunciaram que não havia outra opção a não ser afundá-lo, devido ao mau estado da embarcação e por não encontrarem um porto para acolhê-lo. Caso contrário, disseram, um afundamento espontâneo do casco seria inevitável.

A operação ocorreu logo após a autorização de um juiz de segunda instância, que rejeitou um pedido do MPF, de acordo com a imprensa brasileira. “O procedimento foi conduzido com as necessárias competência técnica e segurança pela Marinha do Brasil, a fim de evitar prejuízos de ordem logística, operacional, ambiental e econômica ao Estado brasileiro”, garantiu a Marinha.

Construído na década de 1950 em Saint-Nazaire, no oeste da França, o “Foch”, que serviu à Marinha francesa por 37 anos, foi afundado por um rebocador holandês, contratado pelo estaleiro turco Sok Denizcilik. O estaleiro havia comprado o porta-aviões como sucata em abril de 2021 para desmontá-lo, mas corria o risco de abandoná-lo, por não encontrar um porto para recebê-lo.

Em junho de 2022, o estaleiro turco obteve autorização das autoridades brasileiras para conduzi-lo até a Turquia para ser desmontado. Mas, quando estava na altura do estreito de Gibraltar, no final de agosto, órgãos ambientais turcos informaram que a embarcação não era mais bem-vinda.

A antiga glória da Marinha Francesa, capaz de catapultar aeronaves de 12 a 15 toneladas a uma velocidade de decolagem de 278 quilômetros por hora, havia sido rebatizado pelo Brasil como “São Paulo”.

Com informações da AFP