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Idosos são público alvo da publicidade veiculada em canais religiosos na TV. Consumidores reclamam de ineficácia dos produtos

Entre um Pai Nosso e uma Ave Maria, apresentadores interrompem a programação para vender terços, imagens sacras e suplementos vitamínicos. A cena é comum em canais religiosos que veiculam missas e programas de entretenimento, como a Rede Vida. Em alguns programas, os próprios líderes religiosos ingerem a cápsula diretamente dos estúdios de televisão para convencer os telespectadores da eficácia dos produtos, parte deles com eficácia questionada pela ciência.

Está em andamento no Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) procedimento para investigar esse tipo de prática. O padre cantor Alessandro é um dos garotos-propaganda de suplementos na Rede Vida. No decorrer do programa, ele paralisa seu show musical e convida ao palco uma mulher chamada Verena, para apresentar suplementos da marca Eleve. “Traz um copo d’água para mim que eu vou tomar um desse. Todo mundo vai tomar isso aqui”, diz, ao ingerir cápsula de um polivitamínico.

A representante, em seguida, apresenta o produto Condroleve, que, segundo ela, é recomendado para “dores nas juntas”. Após a fala de Verena, uma mulher dá seu depoimento e diz que melhorou da artrose e está se sentindo “superbem” e voltou a fazer caminhadas. Afirma também que não toma mais nenhum medicamento depois de ingerir o suplemento.

Em outro programa, na mesma emissora, depois de tomar uma pílula de vitaminas acompanhada de um copo d’água, o ex-padre Dalcides Biscalquin, que abandonou a batina para se casar e atualmente apresenta o Escolhas da Vida, na Rede Vida, diz: “Eu quero que você passe a usar todos os dias o Condroleve”. Na tela, aparecem números de telefone e avisos sobre a possibilidade de parcelar a compra em até 10x. Um frasco custa R$ 199.

Em seguida, entram no ar depoimentos de idosos que supostamente se beneficiaram do suplemento vendido pela marca Eleve. “Se foi bom para mim, vai ser bom para os outros”, diz uma mulher. Depois, um homem identificado como Carlos Dal Bem dá o seu depoimento sobre as melhoras em sua saúde graças ao Condroleve.

Segundo seu perfil em redes sociais, Carlos Dal Bem, 65 anos, é “modelo e figurante em comerciais de TV, fotografia e novelas”. Ele também já representou o porteiro de uma casa de show para octogenárias em um comercial do Mercedes VITO.

Carlos admite que não conhecia o produto quando gravou o depoimento e afirma que recebeu um cachê. “Agências me chamam para comerciais, já fiz novela, fotos publicitárias, propaganda de banco. Quando dei o depoimento para o Condroleve, eu não conhecia, mas eles me deram umas amostras e depois passei a tomar. Nunca mais tive dor nas costas”, garante.

Em maio do ano passado, o Conar processou e condenou a empresa responsável pela venda do Condroleve – que na ação aparece como Elleven Suplementos – por fazer propaganda enganosa do produto em um canal de televisão.

A Representação nº 023/20 traz o seguinte: “Ainda que seja um suplemento alimentar, o produto denominado Condroleve, de responsabilidade da Elleven Suplementos Alimentares, é apregoado em publicidade veiculada em TV como solução para numerosas afecções, como artrite, tendinite e inflamações. A denúncia foi enviada ao Conar por um consumidor”.

Em sua defesa, a empresa afirmou que o produto é um suplemento alimentar. Pontuou ainda que considera não haver promessa de cura na peça publicitária. “A relatora não aceitou estas e outras alegações da defesa. Segundo ela, não há comprovação dos benefícios ou propriedades funcionais do produto, tampouco conformidade às diretrizes da Anvisa para a comunicação de suplementos alimentares. Por estas razões, recomendou a sustação da veiculação do anúncio, agravada por advertência à anunciante. Seu voto foi aceito por unanimidade”, traz o parecer da conselheira do Conar Valéria Sombra.

Além das emissoras religiosas, como a Rede Vida e a TV Aparecida, SBT, Rede TV! e RBI TV também veiculam anúncios da Eleve, como a empresa se apresenta atualmente.

Metrópoles