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201603152344273361BRASÍLIA — A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como superministro do governo, que já era considerada certa pelo PT e pela própria presidente Dilma Rousseff, ficou em suspenso nesta terça-feira, com o impacto da delação do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), incriminando o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, numa tentativa de obstruir a Justiça. A delação do ex-líder do governo no Senado criou um clima de confusão que voltou a paralisar o dia a dia do governo. Lula chegou nesta terça-feira à tarde em Brasília e, em seguida, começou uma reunião com Dilma por volta de 19h no Palácio da Alvorada, onde foram discutidos ajustes de sua participação no governo, e até onde ele poderia ir na sua pretendida guinada na economia. Lula só deixou o Alvorada às 23h30, após quatro horas e meia de reunião.

Segundo interlocutores, o ex-presidente não tinha mais certeza sobre a conveniência de virar ministro. Ministros que estiveram no encontro disseram que isso pode ser definido amanhã. Lula teria uma missão tripla: impedir o avanço do impeachment; repactuar a relação com os partidos aliados, em especial, o PMDB; e animar o mercado e o setor produtivo. Estavam no encontro Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Giles Azevedo, assessor especial da presidente.

 

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Para Lula, outro balde de água fria foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de desmembrar o inquérito do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e enviar para o juiz Sérgio Moro a parte que trata da mulher do deputado, Claudia Cruz, e de sua filha Danielle, que não têm foro privilegiado. No caso de Lula se tornar ministro, ele ganharia foro privilegiado e manteria sua investigação no STF, mas a parte relativa à dona Marisa e aos filhos Fábio Luis e Luis Cláudio provavelmente também seria remetida para Moro.

Na reunião desta terça-feira, Lula e Dilma conversaram sobre os rumos do governo e quais medidas devem ser tomadas para estancar a crise. O ex-presidente não pretendia apresentar um pacote de mudanças de ministros, tirando, por exemplo, Nelson Barbosa da Fazenda. No entanto, ele avalia como fundamental suspender a reforma da Previdência, anunciar medidas econômicas paralelas ao ajuste fiscal — esta uma agenda fortemente negativa para o governo — e promover assim uma “retomada do ânimo nacional”.

Só a expectativa em torno da decisão de Lula aceitar ser ministro já melhorou o ambiente no Palácio do Planalto. No entorno de Dilma, todos se animaram com o reforço do ex-presidente.

— Dilma não tem conexão popular, não fala a voz do povo, e ela sabe disso. Ele dá novo ânimo para a base e para os movimentos sociais, e é exatamente isso o que ela quer — disse um auxiliar próximo a Dilma.

Segundo essa fonte, a presidente faz questão que Lula ocupe um gabinete no Palácio do Planalto perto dela. Assumindo a Secretaria de Governo, o ex-presidente despachará no quarto andar, um acima de Dilma, e ao lado do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner.

A Secretaria de Governo foi criada por Dilma na reforma ministerial, no fim do ano passado, numa fusão da Secretaria de Relações Institucionais com a Secretaria-Geral. Nessa mudança, o superministério ganhou as funções de articulação política e de interlocução com movimentos sociais. Além disso, estão sob o seu guarda-chuva o Conselho de Defesa Nacional e o Conselho da República, que pode convocar ex-presidentes. A extinta Secretaria de Micro e Pequena Empresa também virou um apêndice do superministério.

Para ter uma margem de sucesso, Lula precisa rearticular a relação com o PMDB. Nesta terça-feira, emissários tentaram marcar uma conversa dele com o vice-presidente Michel Temer, que quer evitar o encontro, sob o argumento de que qualquer decisão do PMDB em relação ao governo Dilma será tomada pelo Diretório Nacional do partido nos próximos 30 dias, como decidiu convenção nacional de sábado passado.

Chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua comitiva nos hangares do aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília – Michel Filho / Agência O Globo

Segundo interlocutores de Temer, o vice pretende antecipar uma viagem ao exterior para não participar das articulações que podem selar a ida de Lula para um superministério. Seria uma forma de a cúpula do PMDB não se tornar cúmplice da negociação e manter a rota de distanciamento do governo. Aliados de Temer dizem que ele está “em lugar incerto e não sabido”, tal é a propensão do vice de evitar encontrar Lula.

Na avaliação de caciques peemedebistas, a presença de Lula no governo pode acelerar o processo de deterioração política que tende a culminar com o impeachment:

— Lula no governo significa um peso a mais em um barco furado. Ou seja, afundará mais rápido. As manifestações de domingo tiveram como grande alvo o governo Dilma, mas também o ex-presidente Lula — afirma um interlocutor de Temer.

Lula também tentou se aproximar do PMDB por meio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), da ala mais governista do partido. Renan, porém, tem emitido sinais trocados: ora acena para o governo, ora para a oposição. Na segunda-feira à noite, ele se reuniu com Dilma, que busca mantê-lo como aliado

O ministro da Advocacia Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, negou que a eventual entrada de Lula no governo seja uma forma de fugir da Justiça.

fonte:globo