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Proprietários de 800 ônibus escolares não escondem a insatisfação; nas escolas, alunos também reclamam de merenda  

Cerca de 200 mil alunos matriculados em 310 escolas da rede estadual de ensino em 102 municípios podem ficar sem transporte escolar caso a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) não pague três meses de serviços prestadores pelos transportadores. Os proprietários de 800 ônibus escolares não escondem a insatisfação com o atraso. Eles cobram o pagamento dos meses de dezembro, janeiro e fevereiro e a dívida estimada passa dos R$ 12 milhões. 

O órgão estadual gerante que o débito será quitado. Ainda não definiu a data de regularização, que pode ser a partir desta semana. Para desespero dos microempresários, a Seduc modificará a prestação de serviço e adotará a municipalização do transporte escolar. A medida tem o objetivo de reduzir custos. A maioria dos transportadores desconhece a nova estratégia da Secretaria de Educação. O secretário, vice- governador Luciano Barbosa (MDB), anunciou a comprar de 100 ônibus para atender a demanda dos estudantes de Maceió.

O atraso no pagamento dos transportadores afeta centenas de alunos da capital e do interior. Alunos do Centro Educacional de Pesquisa Aplicada (Cepa), o maior complexo de escolas públicas de Maceió, por exemplo, reclamam dos ônibus que atrasam e de alguns que faltam. Estudantes como Maria Laura dos Santos, 16 anos, do sexto ano do ensino fundamental, e João Pedro da Silva, da 7ª série, moradores do bairro Benedito Bentes II, se queixaram de atrasos constantes dos ônibus. 

“Se a gente faltar ou chegar atrasado aqui no Cepa é prejuízo porque a gente perde aula e se complica no período letivo”, lamentaram.

A estudante Érika Daniela da Silva, da oitava série, disse que a maioria dos colegas voltou a estudar no dia 14 de fevereiro e diariamente enfrenta problemas para chegar na escola. “Quando não falta o ônibus, ele chega atrasado no ponto. Isto sem contar o dia que a gente chega na hora e fica parte da manhã sem fazer nada na escola por causa da falta de professor em determinadas disciplinas”, reclamou.

A maioria dos proprietários dos 45 ônibus que transporta os estudantes do Cepa confirmou a reclamação dos estudantes. Mas eles negam ameaça de greve, como se especula. Justificaram que a falta de ônibus em determinados casos “pode” ser por problemas mecânicos do veículo. A maioria, no entanto, não esconde a insatisfação com a Secretaria de Educação. “Desde dezembro não recebemos o pagamento dos serviços prestados para a Secretaria de Educação. O problema aflige a maioria dos proprietários dos 800 ônibus. A gente está cheio de dívida”, afirmou o microempresário Antônio Carlos da Silva Santos.

O governo paga, em média, R$ 5 mil/mês para cada ônibus. Os três meses de atraso soma o débito estimado em R$ 12 milhões. “O gasto mensal de cada carro com combustível chega a R$ 2 mil, soma-se aí custos com manutenção, pagamento de motorista, fornecedores, o lucro mensal é de R$ 1 mil. Sem receber há três meses, a maioria vai ter que parar por absoluta falta de condição de continuar rodando. Os nossos credores estão nos pressionando e não temos como pagar”, confessou o motorista que se identificou como Olegário de Oliveira Queiroz. 

Os colegas deles não confirmam a ameaça de greve. “A gente não pode parar porque vai prejudicar os estudantes”, disse um motorista que não quis ser identificado.

O secretário da Educação, Luciano Barbosa afirmou que pretende fechar o ano com o transporte escolar municipalizado, com ônibus novos em Maceió e com melhores condições de ensino.

O orçamento da Educação para este ano é de R$ 600 milhões. Deste montante 60% será destinado ao pagamento de professores. O restante é para pequenos investimentos, manutenção da rede, para pagar servidores administrativos, pessoal de apoio (serviçais, merendeiras, vigilantes, auxiliares, outros trabalhadores de apoio e prestadores de serviço). Na folha de professores são 10 mil servidores efetivos e de contratos temporários.

Merenda

Além do problema no transporte coletivo, os estudantes do Cepa e de escolas do interior reclamam também do cardápio da merenda. Na escola Laura Dantas, no complexo educacional em Maceió, alunos disseram não aguentar mais comer bolacha com refresco sem açúcar na hora do lanche. “Parece até que os estudantes do Laura Dantas são diabéticos porque regularmente nos oferecem refresco sem açúcar com bolacha na hora do lanche”, reclamou o estudante Luiz Carlos Ferreira, que estava com as colegas Beatriz Santos e Amélia Souza, todos do sexto ano.

Nas escolas de tempo integral os problemas se repetem. No colégio José Vitorino da Rocha, as obras de reforma ainda não foram concluídas. Os 300 alunos só estudam um turno porque falta merendeiras, além de pessoal de serviços gerais e apoio. Para o segundo turno também não tem professores das disciplinas eletivas de música, inglês e teatro, entre outras, como confirmaram os professores que pediram para não serem identificados.

O pesquisador Alan Douglas também atestou o problema da escola. Ele foi pegar o irmão Júlio César Oliveira, do 4º ano, que saiu mais cedo. “Desde que voltaram as aulas meu irmão só estuda um horário porque a escola na funciona o segundo turno por falta de pessoal e professores”, disse.

Em outra escola de tempo integral, problemas semelhantes. No colégio Teotônio Vilela, os 300 alunos matriculados no Ensino Fundamental, de 6º ao 9º ano, também reclamaram de obras inacabadas e da falta de professores de disciplinas eletivas. A unidade ainda não concluiu a reforma e pelos corredores têm muitas cadeiras amontoadas e outros problemas. Os alunos revelaram que a direção da escola tem cobrado providências para regularizar o calendário escolar.

O Cepa tem 11 escolas dos Ensinos Médio e Fundamental, de Educação de Jovens e Adultos e de tempo integral. A falta de pessoal e de professores ocorre em várias delas, disse uma das diretoras do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Alagoas (Sinteal), professor Lenilda Lima, ao afirmar que algumas escolas têm monitores desenvolvendo atividades que deveriam ser de professores concursados. “Os alunos têm razão de reclamar do transporte escolar, da merenda e da falta de professores”, afirmou a sindicalista.

A presidente do Sindicato, Maria Consuelo Correia, também está preocupada com o clima de insatisfação dos proprietários dos ônibus escolares. “Os motoristas reclamam de salários atrasados e falam em parar. Isto é ruim no começo do período letivo”. Segundo a líder do Sinteal, o problema pode prejudicar quase 200 mil alunos (180.720 estudantes conforme o censo escolar de 2018).

O clima entre os trabalhadores da Educação também não é bom. O sindicato já discute o reajuste salarial, que este ano não deve ser maior que 4.71%. “A categoria quer aumento maior”.

 
 
 
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