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Especialistas dizem que, na maioria das vezes, eles traficam para alimentar vício das drogas

“Meu tio só usava [maconha], fazia assalto creio que era para o consumo. Começou mesmo aos 15 anos. Chegou um tempo que começou a criar aquele tipo de rixa [entre gangues] e aí foi se agravando. Eu vi a massa encefálica sair da cabeça do meu tio e os assassinos passarem ao meu lado”.

O depoimento acima é de Maxwell Mello, de 31 anos, que viu diversos adolescentes enfrentarem o mesmo drama que o tio dele por causa das drogas.

Em Alagoas, 227 menores de idade foram apreendidos no primeiro trimestre deste ano. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), 114 deles foram pegos com entorpecentes, o que representa metade do total.

Na sequência, estão 50 infratores flagrados pela polícia com armas e, 42 apreendidos por roubo a pedestres.

Mello é líder comunitário do bairro do Prado, em Maceió, e tenta ajudar moradores a superarem o vício. Ele já teve um irmão apreendido por tráfico quando era adolescente. E além do tio assassinado, outros 10 amigos de infância foram mortos por algum motivo ligado às drogas ilícitas.

O secretário da SSP, coronel Lima Júnior, reconhece que faltam políticas públicas para lidar com esse tipo de situação, mas também classifica como “branda” a punição aos menores infratores.

“O que aumenta essa incidência do menor ingressar no crime é a legislação ser muito branda. Nós precisamos que a legislação seja alcançada pelo estado, independente da sua idade. O que eu acredito é que se o menor, independente da idade, cometer um delito e pagar pelo crime que cometeu, ele vai sentir que lesou o estado e está pagando”, diz o secretário.

Além do tráfico de drogas, os assaltos a ônibus também são outra preocupação da SSP. Segundo a secretaria, a maior parte desse tipo de ocorrência é praticada por menores de idade.

“Colocar ele [menor infrator] condenado eu não concordo. Ele tem que passar oito anos internado estudando, por exemplo, sair com o 2º grau. Aqueles que têm um perfil de extrema violência, ter um regime diferenciado. Mas a gente tem que fortalecer outras políticas públicas e dar a chance do menor conhecer também o outro mundo, do estudo, do lazer, esporte e cultura”, afirma Lima Junior.

Perfil do infrator

A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Alagoas (OAB-AL) explica que o perfil do adolescente infrator mostra que ele é, na maioria dos casos, pobre, negro e de baixa escolaridade.

Segundo o presidente da Comissão, Ricardo Morais, isso acontece pela falta de oportunidade que o jovem enfrenta no país, como também pelo preconceito.

“Há um estereótipo da pessoa que é tida como suspeita. Em termos de idade, cor da pele, raça, nível social e escolar, normalmente são pessoas de periferia, mais humildes. A distribuição de renda é terrível, onde não dá oportunidade no mercado de trabalho e muitas vezes o tráfico acaba sendo o meio que essas pessoas encontram de ter uma renda”, explica Morais.

“O tráfico é o grande vilão porque outros delitos estão ligados a ele, o roubo, a dependência química, homicídios. Então, é uma cadeia que nasce dessa situação da droga”, ressalta.

Prevenção

O Estado diz que trabalha de forma preventiva para evitar que os jovens entrem no mundo do tráfico. Segundo a Secretaria de Prevenção Social à Violência (Seprev), os trabalhos são feitos em palestras nas escolas, além de visitas a estabelecimentos comerciais que vendem álcool, porta de entrada para outras drogas.

“Todos os estudos comprovam que 80% dos dependentes químicos iniciaram, quando criança ou adolescente, no uso do álcool. Por isso que nós temos esse trabalho preventivo no controle do álcool, já para evitar que ele se torne um dependente químico”, afirma a secretária Esvalda Bitencourt.

O líder comunitário Mello, que perdeu para a criminalidade diversas pessoas ligadas a ele, concorda com a secretária. Para ele, álcool e cigarro levam às drogas ilícitas. No entanto, ele afirma que o governo ainda precisa fazer mais para ajudar a evitar esse tipo de situação.

“Toda droga lícita é uma chave para o mundo das drogas. Vivemos em uma sociedade que, ao invés de estender a mão para as pessoas que necessitam de ajuda, fecham os olhos. Se tivesse uma política pública, muitos jovens não teriam entrado no mundo das drogas porque estariam ocupando a mente com coisas produtivas”, avalia Mello.

 

fonte  : G1- AL